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Estudo aponta que as consequências estão totalmente ligadas a gênero. Meninas estão entre as mais afetadas com a crise global

O mundo vive uma crescente crise alimentar que se agrava a cada dia. Atualmente, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que pelo menos 345 milhões de pessoas em 82 países estão em situação de insegurança alimentar. A situação é ainda mais delicada para meninas e mulheres. Um relatório da ONG Plan International apresenta novas evidências sobre os impactos de gênero na atual crise alimentar global em oitos dos países mais afetados: Etiópia, Somália, Quênia, Sudão do Sul, Mali, Burkina Faso, Níger e Haiti.

As análises do estudo feitas pela Plan e por seus parceiros destacam o cenário para adolescentes e jovens, cujas necessidades específicas muitas vezes não são atendidas por respostas humanitárias. O documento ressalta que normas de gênero pré-existentes moldam a vulnerabilidade de meninas e mulheres a causas diretas e indiretas de insegurança alimentar. Um exemplo é que meninas e mulheres comem menos e depois de meninos e homens na mesma casa. Além disso, famílias chefiadas por mulheres ou crianças, meninas e mulheres com deficiência enfrentam barreiras ainda maiores para o acesso ao alimento.

O relatório recomenda a governos, doadores e atores humanitários o investimento de US$ 22,2 bilhões para evitar que mais 50 milhões de pessoas sofram com a fome. Isso inclui a garantia da proteção à criança com uma perspectiva de gênero, ações contra a violência de gênero, saúde mental e apoio psicossocial para a saúde e garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, além de intervenções na educação, incluindo programas essenciais de merenda escolar.

A situação no Brasil

Não há como falarmos da fome no mundo sem nos preocuparmos também com a situação enfrentada no Brasil. Por aqui, segundo dados da Rede Penssan, formada por entidades como Ação da Cidadania, Actionaid, Ford Foundation, Vox Populi e Oxfam, 33 milhões de brasileiros sofrem com a insegurança alimentar – ou seja, em alguma medida, passam fome, sem a certeza de terem o que comer na próxima refeição. O nível de insegurança alimentar vai aumentando até a fome, quando as pessoas respondem, por exemplo, que “as crianças deixaram de fazer uma refeição por falta de dinheiro ou ficaram um dia sem comer, por falta de dinheiro para comprar comida”.

O agravamento da crise econômica, principalmente durante o período da pandemia de Covid-19, não foi totalmente amenizado pelas medidas de transferência de renda do governo federal. Com isso, tornou-se comum acompanhar cenas de pessoas pedindo comida nas ruas e buscando ossos em supermercados e açougues.

Na área prioritária de Emergências e Resposta Humanitária, a Plan International realizou ações que alcançaram mais de 7,8 milhões de meninas no ano passado. No Brasil, um exemplo vem do projeto Aprender e Proteger, que atuou para minimizar os impactos da pandemia e auxiliar as famílias de jovens de 12 a 18 anos dos distritos da Sé e da Mooca, na área central da cidade de São Paulo. A iniciativa apoiou cerca de 1 mil famílias brasileiras, migrantes e refugiadas com a distribuição de cartão alimentação para pudessem se alimentar. Segundo relatos das equipes da Plan e das pessoas beneficiadas pelo projeto, o recurso financeiro do cartão foi essencial para que não passassem fome em alguns dias.