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Meninas têm mais acesso à educação, mas ainda são vítimas de violência e discriminação, diz relatório

Estudo feito pela Plan International, pelo Unicef e pela ONU Mulheres analisa como o mundo evoluiu quanto à igualdade de gênero nos últimos 25 anos

Timotea, 14, estudando para um futuro melhor.
Timotea, 14 anos.

Agora, 25 anos depois, o Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef), a ONU Mulheres e a Plan International realizaram um estudo para avaliar como o mundo progrediu rumo a esses objetivos. O balanço está no relatório “Uma nova era para as meninas: os últimos 25 anos” e mostra que a vida das meninas é melhor hoje do que em 1995, mas a evolução se deu de forma desigual em diferentes regiões do mundo. Ainda há muitos obstáculos a superar para que todas as meninas possam atingir seu potencial máximo.

“É vital que cobremos que os governos cumpram seu compromisso com a histórica Declaração de Pequim e este relatório oferece uma visão holística de como é o mundo para as meninas depois de 25 anos”, diz Anne-Birgitte Albrectsen, CEO da Plan International.

O mundo evoluiu muito em relação ao acesso das meninas à escola. O número de meninas fora da escola caiu 79 milhões entre 1998 e 2018, segundo o estudo. Em 1998, havia mais meninas do que meninos fora da escola: 143 milhões de meninas para 127 milhões de meninos. Hoje a situação se inverteu e há menos meninas fora da escola (97 milhões) na comparação com os meninos (102 milhões). Além disso, o número de meninas analfabetas de 15 a 24 anos caiu de 100 milhões para 56 milhões entre 1995 e 2018.

Mas em certas regiões do mundo, o progresso é mais lento. Na África Subsaariana, por exemplo, apenas 24% das meninas estão matriculadas na escola secundária, índice que chega a 94% na América do Norte e 90% na Europa e Ásia Central.

Além disso, tarefas domésticas continuam recaindo mais pesadamente sobre as meninas, o que tende a prejudicar seu desempenho escolar. Em cinco de cada seis países com dados disponíveis, meninas de 10 a 14 anos têm mais chance do que meninos da mesma idade de gastarem 21 horas ou mais por semana com tarefas domésticas.

“Os dados apresentados nesse relatório nos mostram a importância de intencionalmente propor um recorte de gênero às políticas públicas para a infância e adolescência, que de fato levem em conta as demandas e especificidades de meninas. Com os dados podemos construir e otimizar o desempenho de leis, políticas e orçamentos públicos para que as meninas acessem os seus direitos, desenvolvam seu potencial e vivam plenamente uma vida sem violência”, diz Cynthia Betti, diretora executiva da Plan International Brasil.

O casamento infantil continua

De acordo com o relatório, nos últimos 25 anos a proporção de meninas que se casam precocemente caiu de uma a cada quatro para uma a cada cinco. Ainda assim o casamento infantil não foi eliminado: milhões de meninas permanecem em risco, principalmente nas regiões mais pobres do mundo. De forma similar, a prevalência de mutilação genital feminina foi reduzida nos últimos anos. Mas, em 31 países, uma em três meninas de 15 a 19 anos continuam sendo vítimas da prática.

Mas os números relacionados à violência contra as meninas ainda estão distantes do ideal previsto pela Declaração de Pequim. Em 62 países com dados disponíveis, a prevalência de meninas de 15 a 19 anos que já tiveram um relacionamento e que foram vítimas de violência de seus parceiros varia de 2% na Ucrânia para mais de 50% na Namíbia e na Guiné Equatorial. Uma em cada 20 meninas de 15 a 19 anos já foi forçada a fazer sexo. Menos de 10% buscaram ajuda profissional após essa experiência, segundo o estudo.

Quanto ao acesso à saúde, as meninas nascidas hoje têm uma expectativa de vida oito anos mais alta do que meninas que nasceram em 1995, segundo o relatório. Mas as meninas ainda são mais vulneráveis à anemia e à subnutrição durante a adolescência. A saúde das meninas também continua a ser ameaçada por questões como a gravidez precoce e infecções como HIV e HPV.

“Há 25 anos, os governos do mundo fizeram um compromisso com as meninas e mulheres, mas eles apenas cumpriram parte da promessa. Embora o mundo tenha reunido a vontade política para colocar muitas meninas na escola, ficou embaraçosamente para trás em equipá-las com as habilidades e o suporte que elas precisam para não apenas criar seus próprios destinos, mas para viver de forma segura e digna”, disse a diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore.