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O estudo faz alerta sobre os impactos, que incluem o aumento do casamento infantil e da violência de gênero

A Plan acaba de lançar o estudo Mudanças Climáticas e Educação de Meninas: Barreiras, Normas de Gênero e Caminhos para a Resiliência, que aponta algumas das principais consequências das mudanças climáticas para a vida e a educação das meninas e traz uma série de recomendações para o poder público e a sociedade civil. O estudo qualitativo ouviu 78 meninas em oito países em desenvolvimento (Benim, Brasil, Camboja, El Salvador, Filipinas, República Dominicana, Togo e Vietnã) e revela como eventos climáticos extremos, infraestrutura escolar danificada e rotas intransitáveis para as escolas estão causando interrupções significativas no acesso das meninas à educação de qualidade. Essas interrupções comprometem o acesso das meninas à escola e têm consequências de longo prazo, como o aumento do casamento infantil, da violência de gênero e da gravidez não intencional na adolescência.

Além disso, as meninas enfrentam desafios crescentes, que incluem o aumento das tarefas domésticas, a redução do tempo de estudo e dificuldades financeiras. Dados do Fundo Malala apontam que as mudanças climáticas podem causar o fim abrupto da escolaridade para pelo menos 12,5 milhões de meninas em 30 países vulneráveis ao clima a cada ano.

No Vietnã, por exemplo, a menina Uyen afirma que os pais preferem tirar as meninas da escola e manter os meninos, porque entendem que elas são responsáveis por ajudar nas tarefas domésticas. Para ela, isso é “injusto” e “irracional”. Outra jovem, Reyna, de 16 anos, que vive nas Filipinas, relata as consequências das mudanças climáticas para a alimentação de sua família. “Como filha de um agricultor e jovem agricultora, sei como é quando nossas colheitas sofrem perdas. Tive que perder minhas aulas e, às vezes, não posso comer porque o produto está danificado devido ao mau tempo”, diz Reyna.

Na educação, as mudanças climáticas têm diversas consequências, começando pelas mais básicas, como impossibilitar o acesso às escolas em razão de alagamentos, queda de pontes e barreiras, entre outros fatores. Em regiões mais distantes ou isoladas, crianças e adolescentes ficam sem aulas porque também não têm conexão à internet ou disponibilidade de aulas remotas.

Aqui no Brasil, as meninas que participaram do estudo relatam que o currículo escolar sobre as mudanças climáticas tem falhas importantes e professores e professoras sofrem com a falta de capacitação para ensinar sobre o tema. “Eu gostaria que nossos educadores recebessem treinamento sobre a realidade das mudanças climáticas nos nossos bairros. As escolas profissionais não têm informações atualizadas, desde a gestão escolar até os professores”, afirma uma liderança comunitária no Maranhão.

Diante dos relatos das meninas e de suas comunidades, a Plan International listou uma série de recomendações ao poder público e à sociedade civil, entre elas:

· Reformular a educação climática: implementar um currículo climático transformador de gênero e treinamento abrangente de professores para capacitar as meninas como líderes climáticas.

· Empoderar as meninas na tomada de decisões: envolvê-las em decisões climáticas, dando voz a elas no desenvolvimento de políticas, especialmente para a continuidade da educação.

· Financiar a educação climática das meninas: aumentar o financiamento para uma educação climática transformadora de gênero e priorizar a reconstrução de infraestrutura escolar resiliente.

· Mudar normas sociais para a educação de meninas: desafiar normas, enfatizando o valor da educação das meninas nos planos de adaptação da comunidade e iniciativas de conscientização.

Sobre os financiamentos relacionados a mudanças climáticas, a Plan International, por meio da pesquisa Abaixo da Meta: Enfrentando a Crise de Financiamento Climático para Crianças, realizada pela própria Plan em parceria com UNICEF e Save the Children, revela que apenas 2,4% do financiamento climático global leva em consideração as necessidades e especificidades de crianças e adolescentes. Essa parcela representou apenas US$ 1,2 bilhão em investimentos durante um período de 17 anos. “Muito embora existam, hoje, mais de um bilhão de crianças em risco extremamente alto de sofrer com os impactos da crise climática, esse não é um público que vem recebendo atenção pelos principais fundos climáticos internacionais”, afirma Ana Nery Lima.

Acesse o estudo aqui