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Depois de ter turmas em São Paulo, no Maranhão, no Piauí e participantes de estados da região Norte, projeto inicia atuação em cidades baianas para fomentar igualdade de gênero e tratar de temas relacionados à saúde sexual e reprodutiva

A Escola de Liderança para Meninas é um dos principais projetos da Plan International Brasil. Apoia o empoderamento das meninas para a prevenção das violências baseadas em gênero, desenvolvendo suas habilidades para a vida, seus conhecimentos sobre seus direitos e incentivando sua participação cidadã. Realizado no Maranhão, no Piauí e em São Paulo, o projeto chega também à Bahia, onde terá um foco em temas relacionados à saúde sexual e reprodutiva com o apoio da Kimberly-Clark, por meio das marcas Intimus e Neve, assim como ocorreu em Teresina, no Piauí.

Além de Salvador, a Escola de Liderança para Meninas na Bahia vai beneficiar participantes de Camaçari, Lauro de Freitas, Maragogipe e Simões Filho. A ideia é dialogar sobre higiene e dignidade menstrual, além de levar práticas de higiene pessoal, como a lavagem de mãos e o acesso a informações seguras sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos. O projeto é uma continuidade das ações que começaram em Teresina em 2019.

Pobreza menstrual e acesso à água

Uma a cada quatro mulheres no Brasil sofre com a falta de acesso à água e/ou ao saneamento básico, de acordo com dados de um estudo da BRK Ambiental em 2018. Quando o acesso é analisado no aspecto étnico-racial, os dados são ainda mais preocupantes por englobarem mulheres autodeclaradas pretas e pardas entre o grupo mais numeroso das pessoas mais pobres, cerca de 19,7%. A desigualdade social, potencializada pela falta de estrutura, pode fazer com que muitas meninas deixem de frequentar a escola durante o período menstrual, impedindo essa parcela da sociedade de desenvolver todo seu potencial educacional. O enfrentamento a esses desafios é uma das frentes da Escola de Liderança para Meninas na Bahia.

Sarah Mabell Rios, facilitadora de projetos da Plan International Brasil, ressalta que essas necessidades podem afastar as meninas de continuarem seus estudos. “É preciso levar em consideração que a saúde menstrual, por exemplo, está intimamente ligada às questões de higiene, água e saneamento. Então, nosso projeto busca gerar justamente o acesso à informação, a produtos de higiene menstrual, à água e ao saneamento como forma de incentivar estratégias de promoção da saúde sexual e da saúde reprodutiva”, afirma.

Além disso, o projeto trabalha a transformação da desigualdade sobre normas, comportamentos e estereótipos de gênero com meninas, meninos, mulheres e homens em toda a diversidade, por meio de capacitações e sensibilização. Por isso, uma das ações do projeto, por exemplo, visa melhorar a infraestrutura de banheiros escolares e/ou comunitários, utilizando uma lente de gênero e uma abordagem inclusiva para garantir que todas as renovações de banheiros respondam às necessidades únicas de meninas e estudantes com deficiências. Também serão realizadas ações de conscientização sobre práticas sanitárias adequadas com meninas, meninos, pais e educadores.

A questão dos banheiros nas escolas públicas ainda merece um olhar muito cuidadoso. Segundo um levantamento realizado em 2018 pelo Ministério da Educação, no Censo Escolar, 4,3 mil escolas no Brasil não têm banheiros. Além disso, as escolas enfrentam dificuldades com banheiros com equipamentos precários, falta de portas, pias e até vaso sanitário. Sarah adiciona a esta situação a falta de instalações sanitárias adequadas e seguras, que geram preocupações adicionais, como o risco de violência sexual e o afastamento das atividades escolares, principalmente no período menstrual.

Sarah destaca que as lacunas de saneamento comprometem a saúde de meninas e mulheres e apresentam vários desdobramentos em suas vidas. Um deles é o adoecimento delas mesmas, de seus filhos e familiares em decorrência da inadequação do acesso à água, ao esgotamento sanitário e à higiene. “Meninas e mulheres, por desempenharem mais o papel de cuidadoras, acabam sendo as mais afetadas no dia a dia e se afastam de suas atividades cotidianas, como o trabalho e a escola”, afirma Sarah, ao ressaltar que no Nordeste a situação é ainda mais preocupante: somente 28,3% da população tinha acesso ao esgoto, comparado ao índice de 79,5% da população paulista.

Ações em prática e parcerias

A Escola de Liderança para Meninas tem 11 ações estratégicas que serão executadas até fevereiro de 2024 e incluem aumentar as capacidades das meninas para atuarem como multiplicadoras de mudança e defensoras da gestão menstrual. Elas também vão influenciar as atitudes de adolescentes e a autoconfiança sobre a gestão menstrual em saúde e direitos sexuais e reprodutivos, e instrumentalizar educadores com informações precisas para apoiar estudantes com ferramentas pedagógicas, inclusivas em termos de gênero, sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos.

“As discussões em torno da saúde menstrual são realizadas por meio de sensibilizações, workshops, formações continuadas com adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, diálogos com cuidadores, responsáveis, formações com educadores, campanhas locais, dentre outras ações, proporcionando oportunidades para o empoderamento de meninas”, explica Sarah. O objetivo é que as meninas possam tomar decisões em suas próprias vidas, para entender e chamar a atenção para questões de desigualdade de gênero e para serem multiplicadoras de informações com seus pares. “Tudo isso influencia significativamente em todas as instâncias da vida delas, pessoal, profissional, etc”, diz a facilitadora do projeto na Bahia.

Algumas ações mais práticas também podem ser exemplificadas pelos workshops sobre higiene menstrual e Direitos Sexuais e Reprodutivos para 3 mil adolescentes e jovens, produção de vídeos e cartilhas sobre o tema, webinários com cerca de 500 educadores, diálogos entre cuidadores, campanhas relacionadas ao assunto, além da própria formação da Escola, que envolve visitas e ações de mobilização para 800 meninas.

Haverá ainda um conjunto de reformas de 20 banheiros escolares em cinco municípios, workshops sobre higiene das mãos e Direitos Sexuais e Reprodutivos com 2,6 mil meninas e meninos, atividades sobre higiene e campanhas nesta mesma linha para escolas e centros comunitários.

O projeto também irá articular diálogos com as lideranças comunitárias, com a gestão municipal, principalmente por meio das Secretarias Municipais de Educação e Saúde, para que tenham participação na construção das ações e consigam garantir a sustentabilidade dessas ações nos municípios. “Temos realizado idas em campo para dialogar com as comunidades e articular ações conjuntas com elas, envolvendo todos esses atores. Nesse processo, as lideranças e gestões municipais se comprometem em nos apoiar com a mobilização de participantes, ceder espaços para a realização das atividades, como também disseminar as informações do projeto”, finaliza Sarah.