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Jovens ativistas contam sobre desafios que enfrentam ao defender suas causas

Falta de apoio financeiro, ameaça à segurança e risco à saúde mental são alguns dos obstáculos relatados por jovens brasileiras

Jovens ativistas brasileiras enfrentam uma série de desafios cotidianos enquanto lutam por seus ideais. Além de constantes ameaças à sua segurança e assédio, um obstáculo importante é a dificuldade em obter financiamento para suas atividades. Na semana passada, a iniciativa Aceleradora da Igualdade, uma comunidade global de jovens ativistas co-criada pela Plan International em parceria com jovens de mais de 40 países, lançou um fundo para meninas e jovens ativistas de até 24 anos que vai ajudá-las a captar recursos financeiros para concretizar seus projetos.

Mariana, de 23 anos, afirma que sempre se considerou ativista. Já no Ensino Médio percebeu que por ser uma mulher negra que sofria situações de racismo com frequência precisava lutar muito para conquistar seus objetivos. Ela conta que esse processo se intensificou na faculdade, quando observou que a sociedade continuava exigindo um determinado padrão a que ela não se adequava. “Sempre me vi ativista porque sempre tive que falar muito alto para poder ser escutada”, afirma.

Ela é pedagoga e faz mestrado em Geografia. Atualmente, faz parte de um grupo de trabalho de gênero de uma organização liderada por jovens que busca conscientizar a juventude sobre seu poder de transformar a sociedade. Mariana diz que, como ativista, sente sua segurança ameaçada todos os dias. “A gente precisa levar em consideração que o perigo não é somente quando alguém vem te ameaçar. Existe isso, mas também existe o risco que a gente se impõe quando se cobra muito e não se permite parar”, diz. Para ela, cuidar da saúde mental é primordial para que qualquer jovem possa seguir lutando de forma segura.

Clara, de 19 anos, é acadêmica em Letras Português e começou sua trajetória no ativismo aos 14 anos, quando participou de um grupo de jovens pelo Unicef. Hoje, integra uma organização que luta contra o trabalho infantil. Para ela, uma das primeiras dificuldades de ser jovem ativista no país é a falta de orientação. “Não fomos instruídas que deveríamos lutar por algo que é nosso direito. Quando alguém se dispõe a fazer isso, bate de frente com sistemas que já existem. Por isso ser ativista é um risco muito grande”, afirma. Por essa falta de apoio e orientação inicial, Clara diz que quase desistiu de ser ativista diante dos obstáculos. “Ser ativista mulher é muito mais complicado porque você acaba tendo que se inserir em espaços majoritariamente masculinos”, afirma.

Sofia, de 28 anos, participa de uma organização juvenil e concorda que as mulheres ativistas enfrentam mais problemas. “Além de estarem mais vulneráveis no território por estarem submetidas à lógica de poder patriarcal, quando se traduz para o ambiente on-line, a forma de ataque às mulheres é mais violenta. As palavras que usam, a forma como tratam, sempre têm cunho apelativo e esses xingamentos afetam as mulheres no nível pessoal, íntimo.”

A bacharel em Direito conta que se descobriu ativista mais recentemente, há dois anos, quando passou a integrar a organização juvenil. “Antes, fazia ativismo sem reconhecer que era ativismo, nas redes sociais, nos movimentos estudantis”, diz Sofia. “Na organização onde trabalho, estudamos técnicas de ativismo, chamamos ativistas para dialogar com as juventudes, tentamos colocar as juventudes nesses espaços para que nossas vozes sejam reconhecidas e tenham impacto no futuro que a gente quer ter.”

Um dos principais desafios citados por Sofia é a falta de financiamento. “Existe uma dificuldade de encontrar parcerias, entender onde estão os fundos, onde está o dinheiro que se pode pleitear para ir para congressos, reuniões internacionais e tentar colocar nossa voz nesses espaços”, diz. Segundo ela, os grupos de trabalho de gênero têm ainda mais dificuldade para conseguir financiamento do que os relacionados ao clima, que já têm um espaço mais consolidado com organizações que trabalham com essa causa.

Sofia acredita que a Aceleradora da Igualdade pode ajudar muito na busca por organizações dispostas a financiar jovens ativistas. “Muitos jovens fazem isso dentro de movimentos coletivos muito pequenos, que não têm muito apoio. As pessoas que estão no território batalhando por causas específicas têm mais dificuldade de entender quais são as oportunidades. Vai ser uma ferramenta muito importante para acelerar esses movimentos.”

Uma das principais esperanças das jovens ativistas é conseguir formar mais multiplicadoras e multiplicadores de sua luta. “Podemos conseguir todo o financiamento do mundo. Se não tivermos pessoas para multiplicar o que a gente acredita, de nada vai valer. Meu mundo ideal é que a gente consiga que muitas pessoas lutem pelas pautas de gênero e se engajem pelas causas socioambientais”, diz Mariana.