5 de maio de 2023 - Tempo de leitura: 4 minutos
Estudo realizado pelo Programa Adolescente Saudável com jovens do Brasil, da Índia e do Quênia destaca alguns dos motivos das preocupações com a saúde mental de adolescentes e possíveis soluções, além da relação entre a saúde mental e as Doenças Crônicas Não Transmissíveis
Nos últimos anos, o tema saúde mental ganhou cada vez mais relevância. Agora, um novo estudo encomendado pela Plan International à Paperboat Consulting se debruçou sobre o tema saúde mental e bem-estar de adolescentes, sobretudo entre a relação da saúde mental com as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). Os resultados apontam alguns dos principais problemas que jovens de 10 a 19 anos estão enfrentando em relação à saúde mental e sugerem algumas recomendações de apoio a elas e eles para enfrentar esses desafios.
Realizado no Brasil, na Índia e no Quênia como parte do Programa Adolescente Saudável, uma iniciativa de investimento comunitário global da AstraZeneca desenvolvida em parceria com a Plan International, o Estudo sobre Saúde Mental e Bem-estar de Adolescentes foi organizado em entrevistas de profundidade por meio de grupos focais com jovens. Os resultados corroboram e aprofundam outras pesquisas realizadas sobre saúde mental, que já apontaram, por exemplo, que durante a pandemia um a cada quatro jovens de até 24 anos estava enfrentando problemas de saúde emocional significativos.
Os quatro principais resultados da pesquisa apontam que:
1. O senso comum é de que os problemas de saúde mental são internos e podem ser tratados com terapia ou medicação. Mas jovens que fizeram parte da pesquisa disseram que os principais fatores que levam ao sofrimento emocional são externos, causados pelos ambientes onde vivem. Entre esses estressores estão a pobreza, a violência física e/ou sexual e as normas de gênero, que impedem as meninas de alcançarem suas aspirações e os meninos de expressarem suas emoções ou buscarem apoio. Para as meninas, as restrições enfrentadas pela falta dificuldade de gerenciar seu período menstrual, sobretudo pela falta de acesso a produtos menstruais, também fazem com que elas se sintam isoladas e deprimidas. “Com os meninos, há uma demanda para serem ‘machos’, por exemplo, desde que são crianças, há essa exigência. Apesar de eu ainda ser criança e ser normal ter a voz fina, as pessoas diziam, ‘engrosse essa voz, fale como um homem! Seja homem’. Eles estimulam os meninos assim. Os
meninos não podem chorar ou expressar suas emoções. E isso afeta suas vidas adultas. Eu vi pesquisas que dizem que uma grande porcentagem de homens tem dificuldade em expressar suas emoções”, afirma um dos meninos brasileiros entrevistado na pesquisa.
2. Jovens não conseguem alcançar uma saúde mental positiva sem o apoio de adultos que são importantes em suas vidas. O estudo destaca que jovens adolescentes não sentem que têm os recursos para lidar com problemas de saúde mental por conta própria. Dependendo do contexto, esse apoio vem de pessoas importantes para jovens, como mães, pais, professores e professoras, além de lideranças comunitárias. É mais provável que procurem o apoio das famílias no Brasil, de seus pares no Quênia e de ONGs ou de pares na Índia. “É difícil. Você pode até sentir vontade de falar, mas os jovens não querem falar. Dizem que você é um ‘maricas’ se quiser conversar, e não tenho com quem conversar, apenas um amigo, que me impediu de me matar uma vez. Eu não falo muito com meus pais, porque eles não aceitam muito, então eu não falo nada, para a gente não brigar”, afirma outro menino participante.
3. Os comportamentos de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), tabagismo, uso nocivo do álcool, sedentarismo, dietas pouco saudáveis e poluição do ar, são estratégias para controlar estresse, ansiedade, depressão, insatisfação e tédio. Esse comportamento, na visão de participantes da pesquisa, só leva a uma espiral emocional descendente da qual é difícil sair. Os meninos têm mais acesso a álcool e drogas do que as meninas e são muito mais propensos a desenvolver problemas relacionados ao abuso de substâncias tóxicas. “Eles fazem isso para desviar sua tristeza para outras coisas. Eles acham que vai ajudar”, diz um participante.
4. As normas de gênero impactam a saúde mental de adolescentes. Na prática, as meninas têm menos liberdade para realizar o que querem e os meninos não compartilham seus sentimentos nem buscam ajuda de outros jovens, familiares e profissionais. Há ainda o medo de que uma fraqueza compartilhada com outras pessoas possa ser usada como arma contra eles e elas.
A partir dos problemas elencados, a pesquisa lista algumas recomendações para melhorar sua saúde mental de jovens:
· Buscar e receber o apoio necessário, sem estigma e sem vergonha. Os problemas emocionais são comuns e muito debilitantes.
· Promover discussões abertas sobre saúde mental e bem-estar nas famílias, escolas, instituições religiosas e outros lugares onde jovens se reúnem.
· Acesso a serviços de apoio, que precisam incluir uma ampla gama de serviços, como planejamento familiar ou tratamento de acne.
· Proporcionar a jovens formas saudáveis de lidar com o estresse, “como a zumba, assim podemos fazer mais exercícios, nos divertir, fugir do tédio e da tristeza”, diz uma das participantes do estudo.
· Reconhecer que a adolescência e a fase de crescimento são momentos muito estressantes para jovens.
“O estudo mostrou que adolescentes do Brasil classificam a saúde mental positiva como sendo a sensação de se ‘sentirem leves’ enquanto a saúde mental precária foi descrita como os momentos ‘em que você não está se sentindo equilibrado/a ou quando não consegue lidar com os problemas da vida’. Assim, reconhecem que as pessoas têm problemas diferentes e a forma como lidam com eles lhes trará uma qualidade de vida melhor ou pior”, afirma Angelica Duarte, coordenadora do Programa Adolescente Saudável na Plan International Brasil, em São Paulo. Segundo ela, alguns grupos de adolescentes se preocupam e pensam sobre como cuidar de si, mas outros adotam uma atitude de viver o agora, “usando drogas, álcool, etc.”.
Para abordar a saúde mental e a saúde em geral de jovens, desde 2010, o Programa Adolescente Saudável já treinou mais de 1 mil educadores pares no Brasil, divulgando informações de saúde sobre a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e fatores de risco. Os educadores pares treinados multiplicaram seus conhecimentos para mais de 130 mil jovens com informações de saúde, contribuindo para mudanças comportamentais sustentáveis. O programa também alcançou mais de 4 milhões de jovens por meio de conteúdos em redes sociais e campanhas de conscientização.