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Membro de comitê por uma internet mais segura, Bruna Vitória fala das mudanças que as meninas já estão promovendo nas redes sociais

Tempo de leitura: 5 minutos

27 de janeiro de 2021 - Tempo de leitura: 5 minutos

Bruna Vitória, que hoje faz parte do projeto Rede Meninas Líderes, já participou de várias iniciativas da Plan e pretende continuar lutando pela causa das meninas

Bruna Vitória, de 18 anos, representa o Brasil em um comitê internacional que luta por uma internet mais segura para as meninas. O grupo, que reúne meninas de vários países, além de representantes de redes sociais como o Instagram, surgiu a partir da campanha #ConectadasESeguras, da Plan International. Os encontros do comitê (até agora foram cinco reuniões on-line) têm abordado possíveis mecanismos para coibir a violência contra as meninas nessas plataformas. No dia 26 de janeiro, uma reunião importante reuniu as meninas e representantes das plataformas Instagram, Facebook e WhatsApp. Além de Bruna Vitória, a jovem Ester, do Minas Programam, também participou.

“Cada sessão tem um objetivo, então a gente falou sobre as dificuldades que cada país encontra, o que poderia ser mudado e como fazer essas mudanças. Agora estamos produzindo uma lista de desejos”, conta Bruna. Os representantes das redes sociais, por sua vez, têm apresentado o que as plataformas pretendem fazer para garantir a segurança das meninas.

A importância de se discutir como tornar as redes sociais um ambiente mais igualitário, onde as meninas se sintam livres para se expressarem e participar de debates, se tornou evidente a partir da pesquisa global “Liberdade On-Line?”, da Plan International, que constatou que 58% das meninas já foram assediadas nas redes sociais. No Brasil, o número de meninas que já sofreram algum tipo de assédio na internet sobe para 77%.

Nesta entrevista, Bruna Vitória, que é de São Luís, no Maranhão, fala sobre como está sendo participar deste momento importante de mudanças nas redes sociais e sobre sua trajetória na Plan e na luta pelos direitos das meninas.

Como está sendo a experiência de compor um comitê de meninas de várias partes do mundo para lutar pela segurança nas redes sociais?
Tem sido uma experiência esplêndida. Tenho aprendido muito com as meninas de outros países e de outras culturas e a gente tem essa percepção de que, mesmo estando tão distantes, passamos pelos mesmos problemas de gênero. E isso no meio presencial e também nas redes sociais. Estou muito feliz de fazer isso, e ficaria feliz também se outra menina estivesse representando o Brasil, porque cada vez mais o Brasil está entrando nessa ideia de construir uma sociedade mais justa para mulheres, pessoas com deficiência, negros… Ver isso acontecendo e participar ativamente tem me tornado uma pessoa mais esperançosa para o futuro das meninas.

O Instagram foi uma das plataformas que aderiu à campanha. O que o Instagram se comprometeu a fazer para garantir segurança on-line para as meninas?
O Instagram está se fazendo muito presente nesse contexto de segurança on-line porque é uma plataforma muito grande. É também muito aberta, diferentemente do WhatsApp. Pessoas do mundo todo podem curtir, comentar, olhar o que o outro posta, e isso se torna muito perigoso, principalmente para mulheres e meninas. Ele está se comprometendo em garantir essa segurança melhorando os mecanismos de denúncia existentes, criando novos mecanismos para que o processo de apuração de uma denúncia seja mais rápido e traga resultados realmente efetivos. E além disso, um problema muito grande é que essas redes têm mecanismos e determinadas opções que os usuários não conhecem. Além de garantir essa segurança, o Instagram está se comprometendo em cada vez mais tornar públicos e acessíveis esses mecanismos para que os usuários tenham mais conhecimento de como proceder em determinadas situações.

Você já passou por alguma situação em que se sentiu insegura num ambiente on-line?
Enquanto menina, enquanto mulher e enquanto negra passo por muitas situações como essa, até porque estou envolvida em um contexto político de movimento estudantil, movimento social e a gente sempre é agredida por isso. Somos agredidas porque falamos, porque a gente luta pelos nossos direitos, porque a gente mostra o corpo, porque simplesmente existe. No ambiente social, eu tenho maior cuidado e tenho me distanciado bastante, tanto que evito certas publicações para não passar por situações de assédio.

Como e quando você conheceu a Plan? De quais projetos participa?
Eu conheci a Plan em 2019, quando ela fez uma espécie de convênio com o Instituto Federal do Maranhão (IFMA) para usar o espaço e chamar algumas meninas para participar do projeto Escola de Liderança para Meninas. No meu caso, recebi um convite de uma assistente social, que falou que o projeto super casava com as ações que eu promovia dentro do Instituto, que eram voltadas para as comunidades negras, indígena e para a causa das mulheres. Até então, eu não tinha parado para pensar na causa das meninas. A gente sabe que os problemas de gênero acontecem de forma diferenciada em cada grupo. Eu fui ao primeiro encontro e achei incrível. No primeiro momento, já criamos um laço, eu, as meninas e as orientadoras. Era um ambiente em que eu estava muito confortável e me senti muito feliz. A gente aprendia de forma dinâmica e mútua. As orientadoras ensinavam e aprendiam conosco. Isso fazia com que tivesse aquele sentimento de igual para igual.

Ainda no Escola, ingressei no Comitê Nacional de Meninas Líderes, representando o Maranhão. Participei também do Meninas Ocupam de 2019 e 2020 (desta vez de forma on-line por causa da pandemia). E tive a oportunidade de participar do comitê internacional Girls Get Equal representando o Brasil. Agora estou no Rede Meninas Líderes finalizando o projeto. Espero que quando acabar, eu tenha a oportunidade de continuar participando de outra forma e pretendo estreitar os laços porque não consigo ver minha vida longe disso, dessa ONG e dessas lutas que a gente trava juntas.

Qual foi o momento mais marcante de suas atividades relacionadas à Plan e à luta pelo direito das meninas?
Acredito que seja o Meninas Ocupam de 2019. Agora em 2021, quando continuamos nesta pandemia, é muito especial relembrar aquele momento que foi presencial, que teve uma troca, muita intensidade, muito abraço, muito choro, muita risada. Foi um momento muito importante para mim. Na campanha de 2019, conheci muita gente legal que está comigo até hoje dentro dos lugares que eu ocupei.

Eu conheci o Flavio Dino [governador do Maranhão] e a gente teve uma troca, foi um momento excepcional que eu não vou esquecer até para entender melhor o contexto político em que estamos inseridos aqui no Maranhão.

Quais são seus planos para o futuro?
Esta é uma pergunta muito ampla porque eu sou uma pessoa muito sonhadora, idealizo muitas coisas e tento fazer o que eu posso no presente. Como nem tudo está ao nosso alcance, pretendo continuar lutando pela causa das meninas, no meu lugar de fala na causa das meninas negras. E fazer isso de uma forma diferente, para que eu possa ajudar mais. Sobre mercado de trabalho, estou no terceiro período de Direito e, ao final do curso, pretendo fazer um concurso dentro da Polícia Federal, que é um órgão muito grande no Brasil, e que sei que vou ter acesso a determinadas situações em que poderei ajudar mais nas causas que eu defendo. No futuro, eu imagino que serei delegada federal. Além disso, não parar de estudar, que é algo que eu amo, e estar rodeada dos meus amigos e família, que são meu porto seguro. Essa é a visão da Bruna Vitória no futuro.