23 de julho de 2024 - Tempo de leitura: 3 minutos
Edição 2024 tem delegação brasileira majoritariamente feminina, além de ser a primeira a ter igualdade de gênero entre atletas participantes
Os Jogos Olímpicos de Paris têm dois marcos importantes: pela primeira vez, o Brasil será representado por uma delegação majoritariamente feminina. De 277 atletas representando o país, 153 são mulheres, ou seja, 55% do time. Esse número é oito pontos percentuais maior que nos Jogos de Tóquio, realizados em 2021. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estima que as mulheres repitam o que aconteceu nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023, e sejam responsáveis por conquistar mais medalhas do que os homens.
Além disso, esta Olimpíada é a que chegou mais perto da paridade entre gêneros. Embora seja uma diferença de quase 200 atletas homens a mais, proximidade no número de atletas homens e mulheres já se configura como um marco histórico. As maiores diferenças ficaram nas modalidades do tênis, hipismo, atletismo e natação.
Segundo Ana Nery Lima, Especialista em Gênero e Inclusão da Plan International Brasil, essa paridade entre gêneros, conquistada ainda que tardiamente em 2024, reforça a importância de olharmos com mais atenção para os direitos de meninas e mulheres e cobrarmos avanços nas políticas e iniciativas voltadas para esse público. “Barreiras como as de gênero, raça e etnia, territorialidade, entre outras, não devem ser um empecilho para que grupos minorizados estejam em ambientes de poder e acessem direitos e oportunidades dignas. Garantir acesso e possibilidades para que meninas e mulheres estejam em todos os espaços que quiserem é de fundamental importância para acelerarmos o relógio da igualdade de gênero e construirmos uma sociedade com mais justiça social.”
Diante desse cenário e com foco em acelerar o relógio da igualdade, o esporte é uma ferramenta importante para trabalhar diversas questões, como o combate ao casamento infantil e a prevenção à gravidez não intencional na adolescência. Um exemplo prático é o projeto Líderes da Mudança, em que a Plan através do esporte trabalha vários temas por meio de oficinas educativas, que são também lugares seguros para as meninas falarem sobre suas vidas, relações familiares, e anseios. São espaços de troca muito valiosos e de promoção dos direitos dessas meninas, para que elas conheçam mais sobre isso.
Muitas vezes, esse projeto é desenvolvido em comunidades rurais ou semiurbanas, onde as famílias vivem da agricultura familiar, com atividades agrícolas, extrativistas e de pecuária. São áreas sem espaços de lazer, em que o dia a dia de uma menina costuma ser ir à escola e ajudar a família com as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças mais novas da família. Nessas comunidades, o futebol é uma das únicas opções de lazer – e geralmente apenas homens e meninos têm acesso aos jogos.
Com base na metodologia Campeãs e Campeões da Mudança, que incentiva o protagonismo de jovens e a conscientização sobre os principais temas de prevenção, o Líderes da Mudança já realizou atividades para turmas em zonas rurais ou semiurbanas do Maranhão, na Região Metropolitana de São Luís, do Piauí, em Teresina, e agora está em São Paulo. As atividades incluem formações sobre prevenção à violências, Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, papéis e relações de gênero, igualdade de gênero e direitos das meninas, e geralmente ocorrem no contraturno escolar.
Os grupos de adolescentes costumam se encontrar para dialogar e praticar esportes, principalmente o futebol. As atividades são diferentes para meninas e meninos. Para elas, o currículo promove o empoderamento e a prevenção da gravidez na adolescência e do casamento infantil. Para os meninos, o projeto estimula uma cultura de respeito e não-violência e o reconhecimento dos privilégios e custos da masculinidade. O Líderes da Mudança também promove campanhas on-line de sensibilização sobre o enfrentamento às diversas formas de violência.