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Atividades on-line reforçam o vínculo com meninas e meninos dos programas da Plan durante a quarentena

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Atividades on-line reforçam o vínculo com meninas e meninos dos programas da Plan durante a quarentena

Projetos como La League, Escola de Liderança para Meninas e Programa Adolescente Saudável mantêm programação on-line semanal

menina segura cartaz #fiqueemcasa

A pandemia de COVID-19, que levou ao fechamento de escolas em todo o país, também tem impossibilitado a realização de encontros presenciais dos projetos da Plan International Brasil. Mas muitas das atividades programadas continuam acontecendo de forma virtual, permitindo que meninas e meninos mantenham o contato com o mundo externo neste momento tão desafiador.

A continuidade das atividades exigiu criatividade e jogo de cintura das equipes de educadores e educadoras, que adotaram novas estratégias para trabalhar os conteúdos de forma virtual. Para Rosângela de Oliveira Araújo, educadora social da Plan, planejar as atividades on-line a estimulou a se reinventar e a desenvolver novas abordagens para manter as meninas e os meninos engajados.

Apesar da distância física, ela acredita que as atividades on-line fazem com que se sinta mais próxima de algumas famílias. “Normalmente, a gente se encontra uma vez por semana e às vezes é pouco para fortalecer esse vínculo. Agora, através de ligações para dar o suporte, acabamos fortalecendo muito esse contato. A mãe ou o pai atendem e já nos conhecem, sempre pergunto como estão, se perderam o trabalho, se as crianças estão conseguindo desenvolver as atividades.”

Os encontros virtuais têm feito a diferença para jovens que, de outra maneira, poderiam se sentir isolados. “Durante esse período de incertezas é sempre bom contar com pessoas e, no projeto, tenho esses contatos com outras meninas e educadores que me fazem saber que não estou sozinha e que o apoio das meninas é importante, nos fazendo refletir sobre sororidade e empatia”, diz Cristiane, de 17 anos, participante do programa La League.

Veja a seguir como alguns dos projetos se adaptaram durante o período de isolamento social.

Escola de Liderança para Meninas
Focado no empoderamento das meninas para a luta contra as desigualdades de gênero, o Escola de Liderança para Meninas se mantém ativo durante a quarentena. Fabiane Sereno, coordenadora de projetos em São Luís (MA), conta que as meninas têm se reunido virtualmente duas vezes por semana para discutir temas como violência de gênero, proteção infantil, protagonismo, direitos sexuais e reprodutivos, segurança alimentar e COVID-19.

As reuniões se dão por um grupo de WhatsApp que só fica ativo nos dias e horários dos encontros. Na terça-feira, as educadoras postam vídeos e artigos sobre o tema da semana e propõem um debate. “Cada uma vai dando sua opinião por escrito ou por áudio”, diz Fabiane. Na quinta-feira, é o dia do desafio. Nesse dia, o grupo fica aberto durante 24 horas para elas postarem a resposta ao desafio relacionado ao tema da semana. Por exemplo, na semana em que o assunto discutido foi saúde mental, as meninas postaram vídeos sobre como estavam se sentindo.

Bruna, de 18 anos, participante da Escola de Liderança para Meninas em São José de Ribamar (MA), conta que os encontros on-line têm abordado temas interessantes. “Ficar em casa durante esse período de caos na saúde é difícil, mas essas atividades prazerosas têm melhorado minha qualidade de vida”, diz Bruna. “O apoio social das meninas e da equipe da Plan tem sido fundamental para minha saúde mental e física. As atividades realizadas, mesmo sendo uma interação em mídias sociais, trazem conforto e segurança para todas as meninas, além da união para vencer as batalhas do dia a dia.”

Fabiane conta que os encontros virtuais têm sido muito importantes para propiciar o contato das meninas com o mundo externo. “É o momento de elas falarem. Além da importância do conteúdo, é ainda mais importante elas estarem falando com outras pessoas, saírem da TV, de ouvir notícias ruins. No Maranhão, temos muitos casos de COVID-19, sendo 90% na região metropolitana. Algumas delas conhecem pessoas que estão doentes e elas falam muito sobre isso.”

Bruna observa que um dos temas importantes que estão sendo abordando nesta quarentena é a violência contra meninas e mulheres. “O projeto tem proposto o compartilhamento de informações sobre esse assunto e a toda hora mais pessoas estão sendo informadas e estão denunciando os casos de violência. No momento de crise social, as crianças e os adolescentes ficam à mercê de desinformação e descuidado; as meninas são vistas apenas como uma mão de obra para atividades domésticas. A sociedade acaba esquecendo que temos direitos e que devem ser assegurados. É isso que a Plan tem feito por nós”, completa Bruna.

Durante os encontros, as meninas também já planejam o que farão depois do fim da quarentena. Quando as escolas reabrirem, elas querem fazer campanhas para arrecadação de alimentos e produtos de higiene para as pessoas afetadas pela crise econômica. “Elas têm poder para isso, são meninas muito articuladas”, diz Fabiane.

Em São Paulo, a turma de meninas já formada pelo projeto no ano passado mantém um grupo no WhatsApp em que continua compartilhando conteúdo e aproveita para trocar experiências.

La League
Com a proposta de empoderar meninas por meio do futebol, o projeto La League também continua ativo de forma virtual durante a pandemia. Rosângela conta que havia dois grupos de WhatsApp com as participantes das turmas já existentes, que continuaram em funcionamento. Para as turmas novas, foram abertos novos grupos com o consentimento das famílias das participantes. A equipe da Plan fez um cronograma de atividades para esses dois públicos – as turmas novas e as antigas – e deu início às atividades on-line logo no início de abril.

Toda segunda-feira é postada uma nova atividade a ser feita durante a semana e entregue na sexta-feira. Rosângela fica responsável por dar o suporte e tirar dúvidas. “Se eu percebo que elas têm dificuldade, eu também faço ligações.” Como incentivo, a educadora dá medalhas virtuais às meninas que entregam as atividades.

Um dos temas abordados, por exemplo, foi o dos vínculos familiares. A missão das meninas era realizar uma atividade com toda a família, como um jogo, uma dança ou uma brincadeira, e postar uma foto dessa atividade no grupo. “No início foi um pouco difícil motivá-las a realizar as atividades”, diz Rosângela. “Depois, fazendo as ligações e dizendo que era importante, que isso iria fortalecer ainda mais o conhecimento delas, elas estão tendo um desempenho cada vez melhor. Em alguns vídeos, a gente percebe a mudança da postura, da fala, de se comunicar e se colocar como estão se sentindo.”

A participante do La League Rosicleia, de 18 anos, afirma que as atividades on-line ajudam a enfrentar esse momento difícil. “Mostrando que, mesmo distante, podem estar nos ensinando como lidar com certos momentos e como nos defender de algo. As atividades on-line todas as semanas nos possibilitam desenvolver fortemente nossas capacidades, além de nos divertirem nesse momento que não podemos ver os colegas e nos aproximar mais”, diz Rosicleia.

Raquel, de 19 anos, também vê as atividades como uma oportunidade de se manter interagindo com as outras meninas. “As atividades on-line estão sendo bastante úteis para mim e para todas as meninas do Projeto La League, pois mesmo não sendo presenciais, a forma como nossa educadora faz é sempre muito legal e dinâmica. Desse jeito estamos conseguindo nos expressar, dar nosso ponto de vista e tentando também multiplicar nossos conhecimentos.”

Hendrieny, de 16 anos, que participa do projeto em São Luís, passou a fabricar máscaras com sobras de tecidos que vinha usando para produzir tiaras e laços para o cabelo em um empreendimento apoiado pelo Projeto Geração.

Projeto Geração
No Projeto Geração, que ensina educação financeira e igualdade de gênero para meninas e meninos, as atividades on-line estão ocorrendo via WhatsApp e em um perfil privado do Instagram criado para promover a integração dos participantes em um ambiente seguro. Segundo Iará Simis, gerente do Projeto Geração, os participantes dos Clubes Standard foram distribuídos em três grupos de WhatsApp, separados por localidade: Teresina (PI), São Luís e Codó (MA).

Toda quarta-feira, um tema novo é proposto para os grupos. Na quinta, lança-se um desafio para engajar os participantes e, na sexta-feira, um “saiba mais” no Instagram, com links e dicas para obter mais conhecimento sobre o assunto. Iará conta que um dos temas já trabalhados foi saúde mental. O tópico estava previsto, mas a equipe resolveu adiantar a abordagem ao perceber o impacto psicológico da quarentena sobre os alunos e alunas. “Eles e elas estão sentindo muito a mudança brusca da rotina, têm saudades de ir para a escola, dos amigos. Estão um pouco perdidos no gerenciamento do medo, da ansiedade. No início, acharam legal pois parecia férias, mas agora a ficha caiu”, diz. Além de receberem orientações sobre como cuidar de sua saúde mental, os/as participantes foram desafiados/as a compartilhar no grupo de WhatsApp e no Instagram dicas de filmes, cursos, livros ou atividades para fazer durante o período de isolamento social.

Iniciativas de empreendedorismo também estão sendo estimuladas neste período. Hendrieny, de 16 anos, que participa do projeto em São Luís, passou a fabricar máscaras com sobras de tecidos que vinha usando para produzir tiaras e laços para o cabelo em um empreendimento apoiado pelo Projeto Geração. Ela distribuiu as máscaras para sua família e está vendendo o restante por R$5.

Programa Adolescente Saudável
Voltado para o empoderamento dos jovens com a disseminação de informações de saúde, o Programa Adolescente Saudável já tinha formado um grupo de adolescentes que entrariam em uma fase de disseminação do conhecimento quando a pandemia chegou ao Brasil. “Terminada a formação desses educadores pares, eles estavam no momento de multiplicação, que seria feita presencialmente com ações como ir à avenida Paulista no domingo, ir a parques. Agora estão fazendo essa multiplicação on-line”, diz Gabriela Guida, gerente de projetos em São Paulo.

Durante a quarentena, os participantes têm uma reunião virtual toda segunda-feira em uma plataforma on-line, em que é estabelecido o tema das multiplicações digitais daquela semana e eles discutem de que maneira farão as divulgações. “Eles fazem receitas ao vivo, criam vídeos para postar nos Stories, postam fragmentos dos materiais do projeto, criam conteúdo para o TikTok, memes. Eles decidem isso nessas reuniões e seguem a semana multiplicando sobre aquele tema”, conta Gabriela. Ela afirma que esse engajamento digital deve ser levado adiante mesmo após o fim da pandemia. “É um meio muito natural para os/as jovens e tem fluído muito bem, eles e elas têm se engajado muito.”

Gabriela, que também gerencia o Famílias Que Cuidam, programa voltado para a primeira infância, conta que a equipe está produzindo conteúdo on-line para compartilhar com os pais. “Além do Cardápio de Brinquedos e Brincadeiras, estão no forno os vídeos mostrando como fazer os brinquedos. Temos também as histórias da Revolução das Princesas que serão lidas pela contadora de histórias Fafá, do perfil Fafá Conta, que é superconhecida no Instagram e no Youtube.”

Desafios
Um dos principais desafios às atividades on-line é a falta de acesso à internet. Aline Xavier, coordenadora de projetos em Teresina, conta que a maior parte das meninas que participam de projetos da Plan na região mora na zona rural. Algumas áreas não têm sequer rede telefônica. “Alguns moradores têm internet em casa e o acesso se dá por Wi-Fi. Mas não são todas as famílias que têm. Algumas pegam do vizinho ou de um conhecido, mas o acesso é restrito e um dos principais desafios é conseguir engajar meninas e meninos que não têm acesso à internet 24 horas por dia”, diz Aline. Por esse motivo, as discussões on-line têm data e horário certo para acontecer e são feitas via WhatsApp. Outras plataformas de vídeo, como Zoom ou Skype, são inviáveis por causa da qualidade da conexão.

Outro desafio, segundo Fabiane Sereno, é descobrir como manter o engajamento das meninas durante várias semanas seguidas. Ela sente que a adesão às atividades on-line tem diminuído e que, por isso, planejará uma mudança de formato com outras educadoras. Uma das ideias é convidar pessoas que as meninas conhecem e que são lideranças influentes na região, para fazer lives em que as meninas possam interagir fazendo perguntas.

Apesar das dificuldades, Fabiane acredita que esse período de aprendizado com as atividades on-line deve render bons frutos. Ela afirma que algumas estratégias devem ser incorporadas aos programas mesmo após o fim da pandemia, como a realização de desafios e estímulo à postagem de conteúdos relacionados aos programas nas redes sociais, o que ajuda a multiplicar o conhecimento para além dos participantes.