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23 de novembro de 2023 - Tempo de leitura: 4 minutos
Plan International Brasil
Nos últimos anos, a sociedade global tem voltado seus olhos para as especificidades das vivências femininas, principalmente as marcadas por gênero, raça e classe. No Brasil, esses desafios se intensificam diante de retrocessos sociais e cortes em investimentos públicos, mesmo frente aos compromissos da Agenda 2030.
Outras referências, como o V Relatório Luz da Sociedade Civil, mostram que as mulheres negras já ocupavam, antes da pandemia, posições de extrema vulnerabilidade econômica. Paralelamente, o investimento público para a promoção da igualdade de gênero caiu drasticamente.
O estudo, realizado em 10 cidades brasileiras nas cinco regiões do país, ouviu 2.589 meninas e revelou um cenário preocupante: muitas delas demonstram desconhecimento sobre instrumentos de proteção, vivenciam papeis de gênero rígidos e enfrentam diversas limitações impostas pela sociedade. Ainda assim, a maioria expressou orgulho em ser menina, sinalizando um forte potencial para a transformação social.
A nova edição da pesquisa comprovou hipóteses alarmantes:
A pesquisa quantitativa foi realizada nas cinco regiões do Brasil, contemplando dez cidades — cinco capitais e cinco municípios do interior —, escolhidos com base em critérios como:
Todos os instrumentos de pesquisa e salvaguarda passaram por avaliação e aprovação do Comitê de Ética da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), garantindo a ética e segurança no tratamento dos dados e das participantes.
A construção social dos papéis de gênero – diferença de oportunidades entre meninos e meninas
Meninas e meninos são socializados de maneira diferente desde a infância, com base na construção histórica e cultural dos papéis atribuídos a homens e mulheres. Em uma sociedade marcada por estruturas de machismo, patriarcado e racismo, as expectativas sobre as mulheres frequentemente incluem tarefas de cuidado, organização doméstica e financeira, além do silenciamento de opiniões. Em contraste, os homens são incentivados a atuar no mundo externo — trabalhar, ocupar espaços públicos e exercer liberdades de fala e ação.
Essas distinções também afetam os sonhos e aspirações profissionais: o predomínio masculino em áreas como tecnologia, por exemplo, é resultado direto dessa divisão social dos papeis.
Além disso, é importante ressaltar que essa dinâmica de desigualdade se agrava para grupos mais vulneráveis, como a comunidade LGBTQIAPN+, meninos negros, indígenas e outros.
A pesquisa Por Ser Menina aponta como essa diferenciação é internalizada precocemente. Meninas entre 6 e 14 anos assumiam, majoritariamente, responsabilidades domésticas, como:
Esses dados revelam que a preparação para papeis tradicionalmente femininos se inicia ainda na infância, moldando as perspectivas e limitações futuras dessas meninas.
A pesquisa buscou captar a percepção de meninas de 14 a 19 anos sobre a divisão de atividades, revelando diferenças expressivas:
O estudo demonstra que, enquanto as meninas continuam majoritariamente ligadas a atividades internas e acadêmicas, os meninos têm maior presença em atividades de lazer e trabalho externo. Esse padrão não apenas reforça as barreiras de gênero existentes, mas também limita o potencial de desenvolvimento das meninas, restringindo suas oportunidades e liberdades individuais desde cedo.
Conheça o Estudo completo com relato de meninas de diversas regiões do Brasil: