8 de setembro de 2023 - Tempo de leitura: 3 minutos
Sanmya está cursando jornalismo e é a primeira menina de sua comunidade a ingressar em um curso superior
Sanmya tem 17 anos e nasceu em uma comunidade quilombola com cerca de 120 famílias no município de Codó, no interior do Maranhão. A dificuldade de conseguir água potável se tornou parte de sua rotina desde muito cedo. As pessoas da comunidade recorriam às cacimbas – um buraco de água no chão – e à água do rio, que não são apropriadas para o uso, para atender suas necessidades diárias.
Para conseguir mudar essa realidade, Sanmya sabia que precisava terminar ao menos o ensino médio. Porém, as tarefas domésticas e as idas ao rio para buscar água consumiam um tempo que ela poderia usar para estudar. Assim como Sanmya, dezenas de jovens da comunidade precisavam andar quilômetros para ir à escola e muitas acabavam desistindo. No entanto, tudo isso seria muito mais difícil sem o apoio da Plan International Brasil, grande parceira da comunidade desde 2003.
“O trabalho que a Plan realiza já impactou diversas famílias ao longo desses anos, incluindo a minha. A organização incentiva as crianças a frequentarem a escola e assegura que meninas e meninos saibam mais sobre seus corpos, além de abordar temas importantes, como a prevenção de violências”, diz Sanmya.
“Em 2012, quando eu tinha 6 anos, a Plan realizou oficinas para escolher as crianças que participariam da Rio+20 e fui uma das selecionadas! Estive na Rede Mais Criança, no lançamento do livro Brasil das Crianças e no projeto Futebol Feminino. Desde os 5 anos, participei do programa de apadrinhamento da Plan, que me permitia trocar cartas com uma madrinha da Alemanha. Naquelas correspondências, sempre encontrava motivação para me desenvolver, sonhar, somar e ajudar cada vez mais a comunidade”, conta a jovem, que também já participou do movimento Meninas Ocupam, ocupando por algumas horas uma cadeira no Ministério Público de Codó, no Maranhão.
Recentemente, Sanmya integrou o comitê gestor do projeto Água, Saúde e Vida, coordenado pela Plan, que implementou um poço de água potável e uma horta comunitária, além de promover oficinas que ajudaram a melhorar a qualidade de vida das famílias. “Luto para que as meninas tenham uma vida melhor, sem violência baseada em gênero e com muitas realizações. Aprendi que a transformação começa primeiro dentro da gente. Percebi que é preciso se conhecer e descobrir que é possível fazer acontecer, para depois transformar a estrutura ao nosso redor”, relata a jovem.
Em 2022, Sanmya celebrou sua maior conquista: prestou vestibular para jornalismo e foi aprovada, tornando-se a primeira menina a fazer curso superior em sua comunidade. Agora ela mora na capital do Piauí, onde está cursando a faculdade com que tanto sonhou. A jovem também participou do jantar beneficente que celebrou os 25 anos da Plan no Brasil. Durante o evento, realizado em São Paulo, ela contou sua história para uma plateia de 150 pessoas. “Infelizmente o Maranhão ainda é precário em muitos aspectos, mas minha comunidade contou muito com o apoio da Plan; a ONG nos ofereceu oportunidades que talvez a gente nunca tivesse acesso. E as contribuições vão muito além da instalação do poço e da ampliação das salas de aula. As meninas hoje se sentem muito mais seguras de falar sobre suas dores, seus desejos e conquistas. As pessoas passaram a escutar mais as crianças e adolescentes e a acreditar que é possível crescer apesar das desigualdades”, disse em seu discurso.
“Hoje eu carrego essa responsabilidade de ser um exemplo para as pessoas da minha comunidade, de inspirar as meninas a acreditar que existe a possibilidade de abrir novos caminhos. Espero poder, em breve, aplicar tudo o que vou aprender na faculdade para ajudar a minha comunidade. Tenho uma longa trajetória para percorrer e muitos objetivos a alcançar”, afirma orgulhosa, com toda a segurança de uma menina que aprendeu que pode ser o que quiser.