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Relatório da Oxfam chama atenção para trabalho não remunerado realizado por mulheres

Estima-se que as mulheres dediquem 12,5 bilhões de horas, a cada dia, para limpar a casa, cozinhar e cuidar de crianças e idosos. Segundo análise da Oxfam, esse trabalho realizado gratuitamente por meninas e mulheres com mais de 15 anos chega a US$ 10,8 trilhões por ano.

As tarefas domésticas sobrecarregam meninas e faz com que elas não tenham o direito à própria infância

Ao cuidar das crianças e idosos, cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa e buscar água e lenha para suas famílias, as mulheres estão apoiando a economia e assumindo cuidados que deveriam ser oferecidos pelo setor público. O valor monetário desse trabalho realizado por meninas e mulheres a partir de 15 anos chega a US$ 10,8 trilhões por ano em um cálculo conservador. O detalhe é que elas fazem tudo isso de graça. Esses dados foram destacados pelo relatório Tempo de Cuidar, da Oxfam, uma organização humanitária internacional que luta contra a desigualdade. O documento foi divulgado às vésperas do início do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

Segundo a ONG, esse trabalho não remunerado alimenta um sistema econômico sexista, que impede que essas mulheres busquem trabalhos que ofereçam uma remuneração digna. O relatório destaca que, por causa das responsabilidades domésticas, 42% das mulheres em idade ativa estão fora do mercado de trabalho. Entre os homens, essa parcela é de apenas 6%. Ao todo, estima-se que as mulheres dediquem 12,5 bilhões de horas a cada dia a esse trabalho não remunerado.

O fato de as responsabilidades com o cuidado de suas famílias recaírem desproporcionalmente sobre as mulheres agrava a desigualdade de gênero e econômica, segundo o relatório. Para a organização, valorizar esse trabalho doméstico, que é essencial para o bem-estar da sociedade, é um passo imprescindível na luta contra a desigualdade.

Essa discrepância de responsabilidades é observada desde cedo. De acordo com a pesquisa da Plan International Por Ser Menina no Brasil, 65% das meninas são responsáveis por limpar a própria casa, enquanto somente 11% dos meninos têm a mesma obrigação. O relatório da Oxfam observa que meninas que se dedicam a uma carga pesada de trabalhos domésticos não remunerados têm menores índices de escolaridade do que outras meninas.

Por todos esses motivos, as mulheres estão mais vulneráveis à pobreza do que os homens. Os índices de pobreza extrema são 4% mais altos entre as mulheres globalmente. Entre as pessoas de 25 a 34 anos, essa diferença chega a 22% devido principalmente ao fato de as mulheres se responsabilizarem pelos cuidados com os filhos nessa época da vida, de acordo com a Oxfam.

O relatório da ONG observa que, enquanto as mulheres que formam a base dessa pirâmide econômica trabalham muito sem qualquer remuneração, o topo da pirâmide, formada em grande parte por homens, muitas vezes não realiza trabalho algum enquanto vê sua fortuna crescer. Isso se torna possível graças a falhas no sistema de cobrança de impostos que beneficia os mais ricos e prejudica os mais pobres. Um dos dados que ilustra bem essa desigualdade é que os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres que vivem na África.

A Oxfam observa que, para mudar essa situação, o primeiro passo é reconhecer o trabalho de cuidado realizado por mulheres e meninas como um trabalho com valor real. Também é preciso um esforço para reduzir as horas dedicadas a esse trabalho não remunerado por meio do acesso a serviços públicos que ajudem nesses cuidados. Outro aspecto importante é redistribuir essas responsabilidades para que elas não recaiam somente sobre as mulheres. Por fim, é preciso que as mulheres que realizam esse trabalho participem do desenvolvimento de políticas públicas em busca de mudar essa situação.