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Qual é o papel dos homens e dos meninos na luta pela igualdade de gênero?

“Solidariedade e interseccionalidade são essenciais para alcançar nossos objetivos”, diz Gonzalo Montano, ativista pela igualdade de gênero e direitos LGBTIQ+. No texto a seguir, ele descreve 7 atitudes que julga essenciais para apoiar a luta pela igualdade.

Gonzalo Montano, ativista pela igualdade de gênero e direitos LGBTIQ, reunido com seus amigos da Plan International
“Aliados são essenciais na busca pela igualdade de gênero”, afirma o ativista salvadorenho Gonzalo Montano.

Homens têm respondido ao movimento feminista de diferentes formas, alguns apoiando, outros antagonizando. No entanto, as feministas também adotaram, por vezes, uma postura rígida e separatista, encarando o desafio de alcançar a igualdade de gênero como algo exclusivo das mulheres, ignorando a questão dos homens e sua socialização no sistema patriarcal.

Ainda bem que isso está mudando. A maioria das defensoras pela igualdade de gênero agora percebe que a solidariedade e a interseccionalidade são essenciais para alcançar nossos objetivos compartilhados. Mas há outros pontos que eu gostaria de compartilhar com homens, meninos e pessoas não-binárias que apoiam a igualdade de gênero, para que possam ajudar a levar o movimento adiante.

1. Reconheça o privilégio masculino

Homens precisam começar por reconhecer os privilégios que temos desde que nascemos como um resultado do patriarcado – sistema governamental e de sociedade no qual homens têm acesso ao poder e mulheres são majoritariamente excluídas dessa instância. Historicamente, o sistema patriarcal coloca o masculino como o centro do universo, favorecendo homens e excluindo mulheres.

Muitas vezes, não estamos cientes desse sistema porque sempre aproveitamos esses privilégios. A lógica patriarcal marcou relações e forjou um poder desigual entre os gêneros. Isso é claro na maioria dos países nas esferas política, econômica, cultural e social, e é um sistema que deve ser desafiado.

2. Mostre solidariedade

Embora a conscientização sobre os privilégios masculinos e o reconhecimento de que meninas e mulheres enfrentam discriminação apresentem progresso, isso por si só não impedirá a perpetuação dessas formas de opressão.

É necessário apoiar as mulheres e meninas em suas lutas diárias para a erradicação dos contextos patriarcais, sexistas e misóginos, para que elas tenham acesso à liberdade, ao respeito e ao poder.

3. Compreenda que a causa da igualdade de gênero é universal

É improvável que a busca pela igualdade de gênero em meu país natal, El Salvador, siga o mesmo caminho que no Paquistão ou no Reino Unido. O contexto é importante, mas as principais causas da discriminação e da desigualdade são as mesmas – papéis injustos de gênero, abuso e assédio normalizados e uma tendência a prejudicar as mulheres para exercer controle sobre elas.

A pesquisa da Plan International – Insegura na Cidade – lança luz sobre a universalidade do assédio e abuso nas cidades do mundo, de Estocolmo ao Cairo. Para lidar com questões dessa escala – a violência de gênero tem sido descrita como uma epidemia em proporções em todo o mundo – meninas e mulheres precisarão de aliados do sexo masculino.

4. Desafie masculinidades negativas

Em sua forma mais extrema, a masculinidade negativa ou “tóxica” é a discriminação, subjugação ou violência contra o feminino. Em El Salvador, muitas vezes vemos uma masculinidade tóxica na forma de violência social que se manifesta nas ruas, em casa, no trabalho, nas escolas e nos espaços públicos. Isso levou a altos níveis de feminicídio e assassinato de indivíduos por causa de sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero.

A masculinidade negativa também tem a ver com a pressão para demonstrar capacidade e não cometer erros. Cumprir esse papel social leva os homens a altos níveis de estresse e, inversamente, a um acúmulo de emoções. Tais atitudes ‘machistas’ afetam a saúde dos meninos e seus relacionamentos interpessoais. Resumindo, essas masculinidades não servem a ninguém.

Gonzalo, 24, da cidade de El Salvador
“Em El Salvador, muitas vezes vemos uma masculinidade tóxica na forma de violência social”, diz o jovem ativista Gonzalo, 24.

5. Tenha uma visão interseccional

A interseccionalidade tornou-se fundamental dentro do movimento de justiça social. A busca pela igualdade de gênero contribui para o avanço de outros grupos da sociedade que têm menos poder. Isso inclui, entre outros, pessoas com deficiência, grupos minoritários ou indígenas e a comunidade LGBTIQ +.

6. Ajude a transformar as dinâmicas de poder

Os homens costumam temer que o empoderamento de meninas e mulheres signifique perder algo, mas a igualdade beneficia a todos nós. Por exemplo, a distribuição de cuidados e tarefas domésticas em casa incentiva relacionamentos mais saudáveis e felizes. Na força de trabalho, uma maior igualdade leva a melhores níveis de produção e satisfação.

Não demonstrar superioridade masculina não é suficiente. Devemos ser aliados contra todas as formas de discriminação e abuso e ajudar a criar outros tipos de masculinidades, enfrentando o medo e a resistência dos homens. Também podemos nos tornar modelos positivos para os nossos pares, para mostrar que cuidar de nós mesmos e do bem-estar das pessoas não é apenas uma característica feminina.

7. Apoie meninas a ocuparem a liderança

Infelizmente, homens, na lógica do patriarcado, tendem a subestimar o poder de meninas e mulheres de criar mudanças e beneficiar toda a comunidade. Portanto, é nosso papel, como meninos e homens progressistas, compartilhar os espaços que o patriarcado nos concedeu e promover a liderança de meninas e mulheres.

A igualdade de gênero não é apenas um direito humano fundamental, mas a base necessária para alcançar um mundo pacífico, próspero e sustentável. Lutar juntos por igualdade e justiça é a única maneira de construir uma sociedade igual.