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No mês em que celebramos o Dia Internacional da Menina, Viviana Santiago reúne nomes como Malala Yousafzai e Ana Júlia em uma lista de meninas que se tornaram referência na luta por direitos e pela igualdade de gênero. Confira! 

Olá! Eu Sou Viviana Santiago, gerente de Gênero e Incidência Política na Plan International Brasil, e há alguns anos venho me dedicando à promoção dos direitos das meninas. No mês de outubro, celebramos o Dia da Menina, data que chama a atenção do mundo inteiro para os desafios vivenciados por elas. Nesse dia, percebemos que precisamos usar a palavra e pensar, sim, a existência de MENINAS, pois ‘mulheres’ parece que já está muito longe, e ‘criança’ não é o suficiente. Pelo fato de serem meninas, nessa mistura entre gênero e geração, as meninas vão enfrentando barreiras para acessarem seus direitos. Por sorte, ao mesmo tempo que enfrentam essas limitações, elas nos mostram todo o seu potencial. Neste mês, quero convidar você para celebrar a potência de 11 meninas que mudaram o mundo e deixar uma pergunta: Quem é a menina que muda o seu mundo?

1. Ruby Bridges – EUA

Conhecer a história de Ruby mexeu profundamente comigo. Imagina você ser uma menina negra, em 1960, nos Estados Unidos, em New Orleans. Ou seja, morar num país que segrega a população e aos 6 anos de idade se tornar a primeira aluna negra a frequentar aulas numa escola que até então era somente destinada a crianças brancas? O processo foi tão intenso que, no seu primeiro dia, Ruby teve que ser escoltada pela polícia e essa foto me marca muito. Sei que não deve ter sido fácil, nem consigo imaginar o que ela deve ter sentido naquele momento, a única coisa que senti quando vi a foto e sinto até hoje é que Ruby não estava sozinha, que todas as meninas negras, todas nós que viemos depois, estivemos ali com ela. Gratidão Ruby, por nos preparar o caminho!

Ruby Bridges, 6 anos. foi a primeira aluna negra a frequentar aulas numa escola que até então era somente destinada a crianças brancas. (Reprodução: Wikimedia Commons)

2. Claudette Colvin – EUA

Um pouco antes de Ruby, em 1955, Claudette era uma adolescente negra  estudante de enfermagem, e aos 15 anos se recusou a abrir mão do seu lugar no ônibus, lá no Alabama, por conta da cor da sua pele. Fico pensando: que negócio impressionante, aos 15 anos de idade reunir força para se insurgir não contra uma pessoa injusta, mas contra uma sociedade inteira! Claudette foi presa, mas um ano depois levou sua ação à Suprema Corte dos Estados Unidos e conseguiu a primeira alteração na lei, que então passou a proibir distinção de lugares nos ônibus baseada em raça. Claudette, agradecida por tua ousadia!

Aos 15 anos, Claudette Colvin se recusou a abrir mão do seu lugar no ônibus, lá no Alabama, por conta da cor da sua pele. (Reprodução: Wikimedia Commons)

3. Mary Shelley – Reino Unido

Todo mundo que gosta de filmes de terror já deve ter visto o clássico dos clássicos desse gênero: Frankenstein! O que quase ninguém sabe é que quando publicou o livro que deu origem ao filme, em 1823, a inglesa Mary Shelley, que ficou reconhecida como a criadora da ficção científica, só tinha 18 anos de idade. É ou não é pra morrer de orgulho da força das meninas?

Mary Shelley publicou o livro que deu origem a um dos clássicos do cinema: Frankenstein. (Reprodução: Wikimedia Commons)

4. Anne Frank – Alemanha

A história de Anne Frank me comove, me inspira, me move. Não tenho palavras para descrever toda a avalanche de sentimentos que me pegam toda vez que leio o Diário de Anne Frank, escrito por essa menina judia alemã que fugiu para a Holanda durante o regime nazista e que lá, em seu esconderijo, manteve esse diário, esse registro tão incrível de sua luta pela vida. A gente sabe que essa história não teve final feliz, mas poder ler o diário de Anne – em mais de 60 línguas diferentes – mexe comigo e me inspira a fazer mais, honrar a minha vida em memória da sua que foi interrompida.

O Diário de Anne Frank narra os momentos vivenciados pelo grupo de judeus confinado em um esconderijo durante o regime nazista. (Reproduçãp: Wikimedia Commons)

5. Malala Yousafzai – Paquistão

Acho que Malala mora no coração de quase todo mundo. A força e inspiração que brotam dessa menina paquistanesa fazem a gente querer sair por aí repetindo o discurso dela. Por sua luta pelo direito das meninas à educação, Malala foi baleada aos 15 anos por um membro do Talibã. Achavam que iam silenciá-la, mas aconteceu exatamente o contrário: Malala se tornou uma voz impossível de não ser escutada e, aos 17 anos, se tornou a pessoa mais jovem a receber um Prêmio Nobel da Paz. Com Malala encontro forças para me juntar a outras meninas e elevar a minha voz!

Malala, 17 anos, se tornou a pessoa mais jovem a receber um Prêmio Nobel da Paz (Foto: Simon Davis/DFID)

6. Yusra Mardini – Síria

No Brasil, a gente geralmente se conecta com a história da Síria a partir de todas as tristes vivências que se relacionam com a crise de refugiados. Mas Yusra Mardini é uma menina síria que me faz conectar com algo mais: aos 17 anos, ela ajudou a salvar a vida de um grupo de pessoas de seu país, refugiadas como ela, que também fugiam da guerra. Quando o bote lotado onde estavam começou a afundar, Yusra pulou no mar e ajudou a resgatar a embarcação. Um ano depois, aos 18 anos, a nadadora fez história ao se tornar membra do primeiro time olímpico de refugiados, nos Jogos do Rio de 2016. Fôlego, força, resistência: só podia ser menina!

Aos 17 anos, Yusra ajudou a salvar a vida de um grupo de pessoas de seu país, refugiadas como ela, que também fugiam da guerra. (Reprodução: Wikimedia Commons)

7. MC Soffia – Brasil

Eu lembro de Soffia quando ela era pequeninha, e eu ficava ali já impressionada com a energia e a vontade que aquela menina tinha de dizer tanta coisa. Sempre achei impressionante a maneira como, desde sempre, MC Soffia trouxe para suas letras a sua indignação com a sociedade racista, mas mantendo o foco em fazer com que as meninas negras pudessem se perceber em sua força, beleza, em seu poder. Hoje Soffia tem 15 anos, arrasou na abertura dos Jogos Olímpicos com a Karol Conka, e nos deixa certas de que o mundo é dela e de todas as meninas pretinhas…. “Menina pretinha, exótica não é linda. Você não é bonitinha. Você é uma rainha.”

MC Soffia trouxe para suas letras a sua indignação com a sociedade racista (Foto: Marcelo Camargo. Reprodução: Agência Brasil)

8. Greta Thunberg – Suécia

Greta tem sido um dos nomes mais pesquisados no Google no mundo inteiro. Ano passado, ela mostrou ao mundo o poder de convocatória das Meninas.  Imagina que força: você ter 16 anos, faltar à aula e ficar na frente do parlamento segurando um cartaz dizendo que está em greve escolar pelo clima? Gente! Oito meses depois, com Greta marcharam pelo clima mais de 1,5 milhão de estudantes em mais de 100 países. Este ano, Greta tem sido alvo de ataques, mas é impressionante ver a maneira como ela lida, e sua  convicção ao falar com todas as pessoas adultas, inclusive líderes mundiais, sobre o planeta, o clima e um futuro que é dela, seu e nosso. Vamos nos juntar a ela?

Com Greta, marcharam pelo clima mais de 1,5 milhão de estudantes em mais de 100 países. (Reprodução: Wikimedia Comms)

9. Luana Pantaleoni – Brasil

Luana é uma inspiração! Acho que me conecto muito a ela porque mesmo sendo uma mulher adulta, sinto até hoje a censura ao meu corpo. Aos 16 anos, Luana criou o movimento “Vai ter shortinho sim!”, chamando atenção para a desigualdade de gênero que barrava meninas na entrada da escola, mas não barrava meninos que iam de bermuda. Luana mostrou que o que estava sendo censurado não era a roupa, mas o corpo e a presença das meninas. Junto com as amigas, ela fez um abaixo assinado on-line que, em menos de um mês, obteve mais de quatro mil assinaturas. Resultado: a escola recuou da determinação. É isso, chega de controlar nossos corpos. Vai ter shortinho, sim!

Luana Pantaleoni e Giulia Pezarim
Aos 16 anos, Luana criou o movimento “Vai ter shortinho sim!”, chamando atenção para a desigualdade de gênero que barrava meninas na entrada da escola, mas não barrava meninos que iam de bermuda. O movimento recebeu apoio de outras meninas, como a Giulia. (Reprodução: Acervo pessoal de Luana)

10. Ana Júlia –  Brasil

O rosto de Ana Júlia tomou conta do Brasil quando ela mostrou ao país inteiro que a luta pela educação de qualidade também é coisa de menina! Num dos períodos mais marcantes da história do Brasil, Ana Júlia protagonizou as ocupações nas escolas contra a Reforma do Ensino Médio. Com Ana, aprendi e aprendo a ir para a rua, a ir à luta, a me juntar com outras e outros e sair em defesa do que é meu por direito. Ainda te escuto, Ana, quando você perguntou a todo mundo: “De quem é a escola? A quem a escola pertence?”.

Ana Júlia protagonizou as ocupações nas escolas contra a Reforma do Ensino Médio. (Foto: Marcos Oliveira. Reprodução: Agência Senado)

11. Kaciane Marques do Nascimento – Brasil

Kaciane é daquelas meninas que inspira a gente, uma brasileira apaixonada por leitura (já leu mais de 560 livros!), Kaciane decidiu compartilhar com outras crianças o seu amor pela leitura. O sonho dela era montar uma biblioteca em casa, e com o apoio de um empresário da sua cidade, São José do Rio Preto, a biblioteca foi montada e já conta com mais de 5 mil títulos! Em 2016, Kaciane deu um passo ainda maior: escreveu seu primeiro livro. Que coisa linda a gente ler, aprender com quem vem antes e, ao mesmo tempo, compartilhar com quem está conosco agora e se projetar dizendo nossas palavras no presente, palavras que chegarão a um futuro que a gente nem vê. Bora escrever?