Quantas mulheres astronautas você conhece? Quantas mulheres engenheiras astrofísicas você já viu? Com quantos homens trabalhadores domésticos você já teve contato?
Tenho certeza que, para cada uma das perguntas acima, a sua resposta deve ter sido “poucas” ou “nenhuma”, mas quantas vezes você se perguntou o porquê?
Certamente você responderá que meninas não são muito boas com matemática, química ou física e que meninos não são muito habilidosos com tarefas domésticas e que isso com certeza determina a profissão que a gente escolhe.
Pensando nisso, e aceitando essa resposta como correta, gostaríamos de fazer uma outra pergunta:
Quantas vezes na escola nós nos incomodamos realmente porque meninas não são tão boas em matemática? Quantas vezes em casa nos incomodamos porque os meninos não são tão bons nas tarefas domésticas?
Vamos falar a verdade? Quase nunca. E você já pensou no porquê?
Nós crescemos acreditando que meninas e meninos são diferentes. E essas diferenças aparecem principalmente na maneira como se comportam, aprendem e ensinam.
Meninas são boas com literatura, história, português, têm a letra bonita e fazem com esmero as tarefas domésticas. Meninos são bons em matemática, geometria, têm a letra geralmente feia e não sabem nem arrumar sua cama.
Sim, meninas e meninos agem dessa forma. Então faço outra pergunta: quando foi que, meninas e meninos aprenderam a agir dessa forma?
Sim. Isso mesmo. A pergunta está correta, aqui eu falo que meninas e meninos agem dessa maneira, porque aprendem assim. E se aprendem é porque alguém lhes ensina.
Em uma pesquisa realizada em 2013 pela Plan International Brasil, 89% de 2.111 meninas participantes alegavam que faziam tarefas domésticas como arrumar sua cama, cozinha, lavar e passar ao passo que apenas 18%de meninos com a mesma idade faziam as mesmas tarefas.
Dizendo assim fica fácil: se meninas desde crianças são ensinadas a fazer tarefas e meninos não, então não é tão surpreendente que na vida adulta mulheres sejam melhores nas tarefas de casa que os homens.
Quando um menino na escola não consegue se sair bem em matemática, a maioria das vezes nós nos surpreendemos e o repreendemos e demandamos para que ele consiga ter um desempenho forte. Mas, se uma menina não consegue se sair tão bem em matemática, geometria, física e química, será que nós nos surpreendemos? Será que nós esperamos que elas tirem as melhores notas ou será que a média está bom?
Pois é, e mais uma vez não é surpreendente que tenhamos poucas meninas /mulheres exercendo profissões que têm como lastro o conhecimento das ciências exatas.
Mas a principal pergunta a se fazer é :por que será que não nos surpreendemos quando meninas não são boas em matemática e quando meninos não fazem tarefas domésticas?
Eu respondo!
Não nos surpreendemos porque temos em nossas cabeças um modelo de ser menina e de ser menino que determina papéis e orienta as nossas expectativas sobre os comportamentos de meninas e meninos.
Para entendermos mais sobre isso precisamos trazer para a conversa o conceito de gênero, que vai nos permitir pensar que na construção social e histórica do ser masculino e do ser feminino, ou seja, às características e atitudes atribuídas a cada um dos sexos que varia em cada sociedade, que varia e no tempo. Sem esse conceito, não conseguimos gerar as análises necessárias para entender que o que pensamos ser algo natural e imutável é na verdade uma construção social.
O que quer dizer que agir e sentir-se como homem e como mulher depende de cada contexto sócio-cultural, depende do que pensa a sociedade e do que determina a sociedade para mulheres e homens, do que ensina sobre ser mulheres e homens e sobre o que podem e não podem fazer, sobre o que devem e não devem querer para si.
Dessa maneira, pensar as relações de gênero, é pensar a nossa vida, de mulheres e homens, de meninas e meninos. É pensar sobre as oportunidades que acessamos hoje em dia e pensar naquelas que não conseguimos acessar. É pensar sobre a maneira como se aprende e a maneira como se ensina. É pensar sobre o que é esperado e sobre o que é surpreendente. É, sobretudo pensar que os indicadores de desigualdade não existiriam se todas as pessoas pudessem acessar todas as oportunidades, sem que houvesse uma censura baseada no que pensamos sobre a capacidade de cada pessoa a partir do que vemos de seu sexo.
Pense sobre isso! Reflita sobre as relações de gênero! Reflita sobre os estereótipos! E pense numa prática pedagógica diferente, inovadora e capaz de revolucionar o mundo construindo a igualdade! E assim, teremos cada vez mais mulheres cientistas!