21 de novembro de 2019 - Tempo de leitura: 6 minutos
No mês em que celebramos o Dia da Consciência Negra, nossa embaixadora Joyce Ribeiro reúne nomes de meninas e mulheres que fizeram história em suas áreas
O dia 20 de novembro é marcado pelas comemorações do Dia da Consciência Negra. Nesta data, voltamos nossa atenção para o resgate e a valorização da memória, da ancestralidade e da cultura negra do nosso país, além de ser o dia em que homenageamos um dos principais líderes negros da resistência contra a escravidão: Zumbi dos Palmares.
Em face desse momento de reflexão e de reconhecimento da importância da cultura negra na sociedade, nossa embaixadora Joyce Ribeiro reuniu cinco nomes de meninas e mulheres negras que fizeram história em suas áreas de atuação e mostraram a potência da menina e da mulher negra para o mundo. Confira:
Serena Williams
Serena Williams, 38, iniciou sua carreira em 1995, quando era uma menina de 14 anos. Ela começou a jogar tênis quando tinha apenas três anos de idade e durante a maior parte da infância e adolescência treinava em casa.
Os primeiros anos de carreira não tiveram grandes títulos, mas já indicavam o futuro brilhante da menina. Até que em 1999, com 18 anos, Serena ganhou o torneio US Open, quebrando o jejum de mais de 40 anos sem que uma mulher negra ganhasse o prêmio. Em 2001, ela e a irmã Vênus Williams conquistaram o Carrer Grand Slam jogando em duplas, e se tornaram a 5º dupla a ter conquistado o feito na história do esporte.
A “rainha das quadras”, como foi apelidada, é a segunda maior ganhadora de torneios de tênis da história do esporte e a única mulher negra a conseguir essa façanha. Até hoje, Serena é a atleta que mais ganhou financeiramente com o tênis, acumulando mais de 92 milhões de dólares.
Simone Biles
É a atleta que mais ganhou medalhas em mundiais de ginástica na história do esporte, e conquistou esse título com apenas 22 anos. Além disso, foi a primeira atleta negra a ganhar o ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística. Ela é considerada uma das melhores atletas de todos os tempos da categoria e o maior nome do esporte olímpico mundial.
Além do brilhantismo no esporte, Biles revelou, no início de 2018, que foi uma das vítimas do escândalo de abuso sexual na Federação de Ginástica dos Estados Unidos, em que o ex-médico da equipe americana abusou sexualmente de cerca de 140 meninas e mulheres ginastas. Biles utilizou sua posição como a maior atleta de seu esporte para evidenciar o trauma do abuso sexual e como isso a afetou na vida pessoal e como esportista.
Sobre o ocorrido ela falou: “Por muitas vezes me questionei. Eu estava sendo muito ingênua? A culpa foi minha? Agora eu sei responder a estas perguntas. Não, não foi minha culpa. Não, eu não devo carregar uma culpa que pertence a Larry Nassar, USAG e outros. Depois de ouvir as valentes histórias das minhas amigas e de outras sobreviventes, eu sei que essa experiência horrível não me define. Eu sou muito mais do que isso. Eu sou única, inteligente, talentosa, motivada e apaixonada.”
Memory Banda
Desde os 13 anos, Memory Banda luta contra o casamento infantil em seu país, o Malawi. E tudo começou quando sua irmã mais velha foi enviada a um “campo de iniciação” aos 11 anos para aprender como agradar um homem sexualmente e lá engravidou.
A maioria das meninas que são obrigadas a ir para campos como esses, acabam abandonando os estudos e se casando ainda crianças ou na adolescência. Ao ver essa realidade, Memory se recusou a ir quando chegou a sua vez.
Para tentar mudar essa realidade, ainda adolescente, Memory começou a participar de duas organizações: a Girls Empowerment Network e a Rise Up. Com a ajuda de líderes mulheres das organizações e de sua comunidade, ela conseguiu que fosse instaurado um estatuto proibindo o casamento infantil.
A solicitação avançou, ganhou força nacional e deu origem a uma lei mais abrangente, que proíbe o casamento de crianças de todo o Malawi. Assim, o ativismo de uma menina que na época tinha apenas 13 anos de idade começou um movimento que ajuda a salvar a vida de cerca de 4 milhões de meninas do país.
Ingrid Silva
Filha de uma empregada doméstica e de um funcionário aposentado da Força Aérea Brasileira, Ingrid Silva fez história ao conquistar uma vaga para ingressar no Dance Theater of Harlem, em Nova Iorque. A origem humilde de Ingrid é comum à história de muitas meninas. Ela nasceu e cresceu em Benfica, bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro. A primeira vez que subiu aos palcos para uma audição foi aos oito anos de idade, na Vila Olímpica da Mangueira. Na ocasião, conquistou uma vaga em um projeto social que oferecia aulas de balé em comunidades do Rio. “Eu conhecia futebol, natação, ginástica, mas balé não. Mesmo assim, minha mãe me levou para o teste, eu passei, comecei a dançar e nunca mais parei”, disse Ingrid em entrevista à revista Vogue.
A oportunidade de entrar na Dance Theater of Harlem surgiu em 2007. Na época, a bailarina Bethânia Gomes viu Ingrid dançando e sugeriu que ela fizesse um vídeo para participar de uma audição em um curso de férias da escola. Foram mais de 200 meninas bailarinas inscritas – e Ingrid foi uma das poucas escolhidas!
“No Dance Theater of Harlem, companhia fundada em 1969 por Arthur Mitchell, o primeiro bailarino negro do New York City Ballet, me encontrei, me senti acolhida. O DTH é uma companhia multirracial que defende, acima de tudo, a inclusão. Entre seus integrantes, há bailarinos do mundo todo. Finalmente, me vi numa sala de aula com pessoas que se pareciam comigo; nunca pensei que isso seria possível até estar ali.”, explicou a bailarina na entrevista.
A partir dessa experiência, Ingrid conta que começou a aceitar e a gostar mais dela mesma, da sua aparência, reforçando sua identidade negra. Os fios alisados, por exemplo, deram lugar aos crespos no estilo black. Ocupar uma posição em um dos principais grupos de dança do mundo é, para Ingrid, uma conquista mais que necessária para ampliar a diversidade na área da dança e abrir portas para que mais meninas negras possam sonhar e alcançar novos patamares.
Daiane dos Santos
Daiane dos Santos foi a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, feito histórico na trajetória dessa modalidade esportiva no país. A atleta se consagrou com o espetáculo de movimentos sob a trilha sonora de Brasileirinho, momento em que também apresentou ao mundo dois movimentos inéditos: o duplo twist carpado e sua variação esticada, popularmente conhecidos como “Dos Santos” e “Dos Santos 2”.
A paixão pela ginástica artística começou aos 11 anos, em Porto Alegre, sua cidade natal. Aos 16 anos ela já disputava os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá. Na competição trouxe as primeiras medalhas na categoria sênior da ginástica artística: prata no salto e bronze por equipes.
Mesmo em meio a tantas conquistas, Daiane também sofreu os efeitos do racismo, inclusive no esporte. Em entrevista à ONU Mulheres, a ginasta comenta sobre o assunto e reivindica novas oportunidades para as mulheres e meninas negras: “Nós, meninas e mulheres negras, ainda temos menos oportunidades não apenas no esporte, como em diversas áreas. Muitas barreiras ainda permanecem as mesmas de vinte anos atrás. É preciso dar às meninas e mulheres negras as mesmas condições e oportunidades de se desenvolverem em diferentes esportes e desconstruir de uma vez por todas tabus de que determinadas modalidades não são para pessoas negras.”