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Gravidez na adolescência volta ao horário nobre da TV e reacende debate sobre políticas públicas, avalia especialista da Plan Brasil

Tempo de leitura: 3 minutos

3 de novembro de 2025 - Tempo de leitura: 3 minutos

A nova novela das nove, Três Graças, que estreou nesta semana na TV Globo, trouxe logo em seu primeiro capítulo um tema urgente, mas ainda pouco debatido: a gravidez na adolescência. Para a Plan Brasil, organização sem fins lucrativos que atua na proteção de crianças e adolescentes, especialmente meninas, a abordagem do tema em rede nacional é uma oportunidade de ampliar o debate público sobre prevenção, educação e igualdade de gênero.

“Quando a TV traz para o centro da conversa uma situação tão comum na vida real, meninas que engravidam na adolescência, muitas vezes sem informação ou apoio, ela ajuda a quebrar o silêncio em torno do tema”, afirma Paula Alegria, Assessora de Advocacy e Direitos Sexuais e Reprodutivos da Plan Brasil. “Mas para mudar a realidade, é preciso mais que debate: é necessário garantir políticas públicas de prevenção e educação sexual.”

Segundo dados do Sinasc/Datasus, a cada hora 44 adolescentes dão à luz no país, e 5 delas têm menos de 15 anos. A maioria das gestações ocorre em contextos de vulnerabilidade e violação de direitos: toda relação sexual com crianças e adolescentes com menos de 14 anos é considerada estupro de vulnerável, mas apenas 4% dessas meninas conseguem acessar o aborto legal e seguro, previsto em lei para casos de gravidezes decorrentes de violência sexual.

A gravidez precoce é também uma das principais causas de evasão escolar no Brasil e atinge principalmente meninas negras e de baixa renda. Segundo dados de 2015 do IBGE, 60% das mães adolescentes não estudam nem trabalham, perpetuando ciclos de pobreza e desigualdade.

Um levantamento recente realizado pela Plan Brasil e Instituto QualiBest mostrou que a gravidez na adolescência é uma preocupação para 56% da população brasileira, ficando entre os principais temas associados à vulnerabilidade de meninas. A pesquisa ainda revela que 60% das pessoas acreditam que as meninas estão mais vulneráveis hoje do que há 10 anos, e que o fortalecimento de leis e o investimento em educação de qualidade são apontados como as medidas mais urgentes para protegê-las.

Para a instituição, abordar o tema da gravidez precoce em horário nobre é uma oportunidade de reforçar a importância da educação como ferramenta de prevenção. A organização mantém programas voltados ao empoderamento de meninas e adolescentes, como o Escola de Liderança para Meninas, implementado na Bahia. Nessas turmas, jovens têm aulas sobre saúde menstrual, saúde sexual e direitos reprodutivos, aprendendo a reconhecer sinais de abuso, desenvolver autoestima e planejar o futuro. O projeto Líderes da Mudança, no Maranhão e no Piauí, também concentra esforços para a prevenção da gravidez na adolescência, usando o esporte como ferramenta de transformação social e levando atividades formativas sobre direitos e saúde sexual e reprodutiva para meninas e meninos adolescentes.

“É muito importante que não tenhamos barreiras para falar sobre o tema, seja no ambiente familiar ou nas escolas. Conversar e refletir sobre sexualidade pode garantir um presente e um futuro com mais segurança para meninas e adolescentes”, acrescenta Paula.

A Plan Brasil atua diretamente na prevenção da gravidez na infância e na adolescência, com foco em educação para a sexualidade, formação de jovens e famílias e fortalecimento de redes de proteção. “A novela pode inspirar novas conversas dentro das famílias, escolas e serviços de saúde. O desafio agora é transformar essa mobilização em políticas efetivas e oportunidades reais para meninas e adolescentes”, conclui Paula Alegria.