23 de dezembro de 2019 - Tempo de leitura: 4 minutos
Alice Juliana de Sousa, que participou de programas da Plan Brasil durante a adolescência e hoje atua como educadora no projeto La League, venceu o prêmio Viva 2019 na categoria Educação
Alice Juliana de Sousa teve o primeiro contato com a Plan International Brasil ainda no ensino fundamental. Desde então, participou de outros programas, foi voluntária da organização e hoje é educadora social da Plan, atuando no projeto La League em cinco comunidades de Timbiras e Codó, no Maranhão. Os temas que foram apresentados a ela pela Plan – relações de gênero, desigualdade, violência baseada em gênero, direitos e saúde – formaram o alicerce para a criação do grupo Juventude em Ação Social Comunitária (JASC), focado em contribuir para que meninas e mulheres de Timbiras reconheçam seus próprios direitos, tenham autonomia e lutem por uma comunidade justa.
Pela relevância de seu trabalho nessa comunidade, Alice Juliana foi a vencedora da categoria Educação do Prêmio Viva 2019, uma parceria entre a revista Marie Claire e o Instituto Avon. Na cerimônia de entrega do prêmio em 25 de novembro na Sala São Paulo, na capital paulista, ela falou sobre a luta pela igualdade de gênero. “A gente vai, sim, conseguir ter uma sociedade mais justa e igualitária, seja no interior do Maranhão ou na metrópole.”
Alice Juliana, que tem 21 anos e também é estudante de Biologia na Universidade Federal do Maranhão, conta que o que aprendeu na Plan quando participou do programa Adolescente Saudável, durante o ensino médio, era drasticamente diferente do que observava em sua comunidade. “Eu sou do interior, aqui a expectativa é que você case virgem, tenha filhos e seja uma boa dona de casa”, diz ela. “Ninguém falava de direitos sexuais e reprodutivos, por exemplo, nem que se pode escolher se vai casar ou não, ou se quer gerar descendentes. Quanto mais eu aprendia sobre os temas, mais crescia a vontade de falar para todo mundo que aquilo estava errado”, conta.
Em seu bairro, Alice Juliana ouvia as pessoas dizendo, por exemplo, que a vizinha apanhava e continuava com o marido porque gostava. “No projeto era outro universo, a gente aprendeu que essas mulheres vivem em um ciclo de violências muito maior e que não é simples sair dessa situação, portanto precisam de uma rede de apoio.” Ela relata que o fato de ter descoberto que o corpo da mulher é tido muitas vezes como um objeto, como receptor de ordens masculinas e oprimido por uma organização social sexista a deixou tão inconformada a ponto de motivá-la a fazer algo para mudar essa realidade. “A Plan me motivou a olhar para o mundo com lentes de gênero, a me reconhecer enquanto menina com poderes e enquanto sujeita de direitos.”
Ao ficar grávida durante a adolescência, com 17 anos, Alice não seguiu o destino da maioria das meninas de sua cidade. Persistiu no objetivo de entrar na universidade e passou no vestibular quando a filha tinha apenas dois meses. Para ela, passar por essa experiência é mais uma motivação para seguir sua linha de trabalho com educação de jovens. “Percebi que as meninas de fato precisam receber informações acessíveis para aprenderem sobre cuidados com o corpo e sobre prevenção”, diz Alice. “O grande detalhe é que estas informações devem ser oferecidas pela família, pela escola e pela sociedade.”
Nos últimos anos, o JASC, que surgiu a partir de uma mobilização de jovens para arrecadação de mantimentos para sete crianças extremamente pobres que tinham perdido a mãe para o suicídio, se expandiu para ações em outros bairros. Hoje, o grupo foca no engajamento na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, no incentivo da geração de renda e no despertar da autoestima de meninas e mulheres.
“Trabalhamos com contação de histórias de mulheres jovens da cidade de Timbiras que desafiam as prescrições sociais impostas. São jovens com pequenos empreendimentos, estudiosas das áreas das exatas, amantes de futebol, etc”, conta Alice Juliana. O grupo, cujos participantes são todos voluntários, também realiza oficinas de beleza, apoia um evento que discute a aceitação dos cabelos crespos e cacheados com meninas e mulheres, e realiza oficinas mensais com adolescentes sobre temas como autoestima, trabalho em equipe, gênero, direitos sexuais e reprodutivos, prevenção e sexualidade. Sobre ter sido contemplada com Prêmio Viva, Alice Juliana diz que a expectativa é que isso abra mais portas e beneficie as pessoas que participam do projeto. “Receber o prêmio simboliza o reconhecimento de um trabalho desafiador, que nos impulsiona e nos faz acreditar que realmente podemos fazer a diferença no mundo. Vale ressaltar que sou só a representação de um grupo de mais pessoas, que seguem juntas executando melhorias na comunidade.”