12 de março de 2019 - Tempo de leitura: 4 minutos
Euclides mora no município de Timbiras, um lugar que apresenta um contraste desconcertante entre as belezas naturais que o cercam e a falta de acesso a diversos serviços básicos. Enquanto da janela de quase todas as casas de taipa é possível apreciar a visão dos belíssimos morros e chapadas que formam a região, a visão das condições em que vivem seus moradores carece da mesma beleza.
Problemas com saneamento básico são comuns, assim como as impossibilidades de deslocamento ocasionadas pelo fraco sistema de transporte público da região. Crianças enfrentam problemas diariamente para chegarem até a escola e, uma vez que consigam terminar o ensino fundamental e médio com muito esforço, somente podem ingressar na faculdade se deslocarem-se para outro município, a 125 km.
Em uma dessas casas, a equipe da Plan International Brasil encontrou uma criança morando com seu irmão e o avô, em uma situação não mais difícil do que se encontravam todas as casas da localidade.
Euclides, então com 11 anos de idade, era uma criança muito tímida, porém muito apegada com o esposo de sua avó materna, a quem reconhece como avô. Deixado por sua mãe na casa dos avós, Euclides descobriu, algum tempo depois, que tinha um irmão mais novo apenas quando o mesmo foi deixado na mesma casa que ele. Sobre a mãe das crianças, pouco se sabe, uma vez que ela faleceu pouco tempo depois de deixá-las com a avó. Por sua vez, a avó também deixou a casa, sobrando apenas Euclides, o irmão e o avô, a quem as crianças eram muito apegadas. Quando este veio a falecer, as crianças estavam sozinhas em uma região que, além de toda a tragédia pessoal delas, não lhes garantia direitos básicos como educação ou saúde.
Alguns meses depois, agentes de Construção de Relacionamento da Plan International Brasil, em visita ao local, descobriram a tragédia que se abateu nas vidas de Euclides e seu irmão. Os funcionários da organização foram mobilizados e tomaram as providências necessárias para garantir a sobrevivência das crianças àquelas condições. Autoridades foram acionadas ao mesmo tempo em que os funcionários da Plan International Brasil precisavam organizar uma ajuda mais emergencial como comida e roupas. A equipe mobilizou ainda alguns membros da vizinhança para que ajudassem a monitorar as condições em que se encontravam as crianças e, inclusive, se estavam frequentando a escola.
Os dois irmãos ainda vivem na mesma casa que foi deixada por seu avô e, apesar de alguns desentendimentos inerentes a idade, sabem que são agora um núcleo familiar. Nas paredes, algumas fotos já amareladas pelo tempo são as lembranças que restaram de sua mãe, avó, avô e das duas irmãs gêmeas, que ainda não conhecem.
Tão importante quanto o trabalho de retirar Euclides e seu irmão da situação em que se encontravam há algum tempo, é dar continuidade ao que foi feito. Para isso, e levando em consideração que a comunidade onde moram é de difícil acesso, os funcionários da organização contam com a colaboração de vizinhos que conhecem a história dos garotos e se revezam em acompanhar o caso – além da ajuda da tutora legal de ambos, uma vizinha que se voluntariou e foi, então, designada pelo Estado. O esforço coletivo tem ajudado a garantir que os poderes públicos cumpram seu papel em prover a assistência mínima e o que é de direito dos meninos, como saúde e acesso à escola.
Euclides continua a ser um jovem muito tímido à primeira vista. Dificuldade esta que ele mesmo reconhece que o afastou de alguns projetos da Organização onde era esperado dele certa desenvoltura social. No entanto, há muita disposição em prosperar, evidenciada pelo empenho nos estudos. Recentemente, Euclides foi aprovado em um curso técnico e tem demonstrado muito interesse em mecânica. Basta tocar no assunto para tirá-lo da armadura da timidez. Outro assunto que sempre funciona é futebol. Torcedor ávido do Flamengo, basta falar no time para ele começar a contar todo o seu repertório de piadas com os times que não são o seu.
Cinco anos já se passaram desde o primeiro contato dos irmãos com a Plan. Hoje, Euclides é um adolescente de 16 anos que frequenta assiduamente a escola. É um bom aluno e tem planos grandiosos para o seu futuro. Fala em ser político, quer ajudar a melhorar as condições do lugar onde vive. Mas é claro, como é normal para um adolescente, ele às vezes muda de ideia e diz que quer ser missionário. É interessante notar que, independente de qual profissão ele decida seguir, elas têm em comum um ponto muito forte e presente na vida de Euclides: ajudar o próximo.