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A QUEM PERTENCE O CORPO DAS MENINAS? PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO.

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A QUEM PERTENCE O CORPO DAS MENINAS? PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO.

Essa deveria ser uma pergunta de resposta fácil, mas não é! Exemplos da complexidade da relação que a sociedade estabelece entre corpo feminino e culpa são mais comuns do que se imagina.

Basta ler uma notícia sobre um crime de estupro: chega a ser impressionante a comoção social em busca de falhas no que seria a conduta – estereotipada – esperada de uma mulher. Tudo para encontrar nela, a vítima, qualquer traço de culpa, ou alguma corresponsabilidade pelo ocorrido. Se transpusermos para outros crimes – por exemplo, um assalto – nunca culpamos a vítima pelo ocorrido.

Os questionamentos seguem um padrão: “Onde foi?”, “Em que horário aconteceu?”, “Que roupa usava?”, “Andava sozinha?”, “Não se dá o respeito. Esperava o quê?”, “Ela com certeza provocou ele!”. Consequências do processo de socialização de gênero. A Gerente Técnica de Gênero da Plan International Brasil, Viviana Santiago, chama a atenção para qual o tipo de educação estamos dando aos meninos e às meninas.

“Os meninos aprendem que precisam provar que são homens. E como é que um menino prova que é homem? Conquistando uma menina e conseguindo ter uma relação sexual com ela. Ele precisa, o tempo inteiro, corresponder a essa maratona de conseguir conquistar o máximo de relações sexuais com muitas mulheres o tempo inteiro. Aqui é possível a gente identificar uma relação de consumo! E  o que temos ensinado para as meninas? Que ela não pode ter relações sexuais tão facilmente. Porque, se ela for “fácil”, será taxada de puta. Vejamos como estamos instaurando aí um estupro. Um homem que tem que ter o máximo de relações sexuais com uma mulher e, uma mulher que não lhe é permitido ter relações sexuais de forma tão liberal quanto os homens. Uma mulher que precisa se resguardar. A gente, então, conclui que essa relação vai ser forçada em algum momento.   E qualquer relação sexual não consentida  é um estupro”, esclarece Viviana.

Com esse tipo de leitura, naturaliza-se uma noção de compulsão sexual natural dos homens, autorizando os corpos das mulheres como objetos a serem consumidos, violados. É preciso modificar a percepção de que o corpo feminino existe para servir. É um dever social de todos lutar para que a culpa do estupro seja de quem cometeu o crime, e não da vítima.

Essas percepções só podem ser transformadas por meio de um novo processo de educação de meninos e meninas que começa dentro de casa, se estende às escolas e a todos os ambientes de formação das identidades e papeis de pessoas, independentemente de gênero.