Antigamente, as diferenças entre mulheres e homens eram explicadas pela questão anatomofisiológica. Viviana Santiago, Gerente Técnica de Gênero da Plan International Brasil, explica que um exemplo atual, são as vagas oferecidas no mercado de trabalho.. “Muitas vezes, os anúncios de vagas são assim: ‘temos vagas para 10 meninos’. Mas, por que a empresa solicita 10 meninos, jovens, rapazes? Porque a vaga é pra uma função de organizar e arrumar caixas no supermercado. Então é preciso questionar: a vaga de repositor não é uma vaga pra homens, é uma vaga pra pessoas fortes. Mas, como entende-se, em geral, que o homem é que é forte, então a empresa delimita as vagas para homens. Uma empresa de manipulação de cosméticos oferece vagas para mulheres. E segue a mesma lógica: como o profissional vai lidar com maquiagem, coisas de estética, então, logicamente, teria de ser uma mulher. Não, não pode ser assim. A empresa precisa de uma pessoa que lide e entenda de cosméticos. Então, vejam como ainda hoje a gente tem essa tendência de seguir um padrão de distinção meramente sexual”.
O conceito de gênero vem auxiliar meninos e meninas a entenderem que o gênero não pode ser um fator de distinção. Irlane, de 18 anos, natural de Codó, no Maranhão, já entendeu esse processo e tenta desconstruir esses modelos por onde passa, ajudando outras meninas e mulheres a desenvolverem suas potencialidades e o empoderamento. A adolescente conta que já ajudou a todas as mulheres da própria casa – da mãe às tias – a iniciarem essa desconstrução.
“Me incomoda me dizerem que eu não posso fazer uma coisa porque sou mulher, que não posso praticar um esporte porque sou mulher, que aquilo é coisa de homem. Na minha concepção, não tem diferença entre coisa de homem e coisa de mulher. Se eu tenho capacidade para fazer e não preciso dos meus órgãos genitais para executar essa atividade, então, não tem nada a ver com sexo. Não tem isso de coisa de menino e coisa de menina”, explica Irlane.
O que meninos e meninas sabem, ou deixam de saber, tem pouco a ver com o corpo. Essas noções estão muito mais permeadas com práticas sociais reproduzidas por milênios. A socialização de gênero envolve a sociedade inteira, em todos os momentos da vida das meninas e mulheres.
Viviana Santiago explica que os processos de violência contra meninas e mulheres também se baseiam nesses estereótipos de gênero. “Por exemplo, o trabalho infantil doméstico é um trabalho de meninas. Por que é um trabalho de meninas? Porque a gente acredita que cuidar da casa e das pessoas é coisa de mulher”.
Todas as coisas são pra todas as pessoas. A intenção dos projetos é despertar potenciais, permitindo que as meninas se desenvolvam e entendam que elas podem buscar ser quem são plenamente.