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Tirando o Véu – Estudo sobre casamento infantil no Brasil

Tempo de leitura: 3 minutos

Menina negra segurando um véu azul decorado, com texto “Estudo sobre casamento infantil no Brasil” ao fundo

Locais da Pesquisa

Brasil, nos estados da Bahia (Salvador, Camaçari, Mata de São João) e Maranhão (Codó).

Responsável pelo Estudo

Plan International Brasil

Casamento infantil no Brasil: Realidade invisível e seus impactos sociais

O casamento prematuro, definido como a união – formal ou informal – de pelo menos um dos cônjuges com menos de 18 anos, é uma prática antiga e persistente no Brasil. Embora pareça distante do imaginário contemporâneo, muitos brasileiros e brasileiras convivem com histórias familiares que envolvem uniões precoces sem jamais questioná-las. Ainda hoje, esse fenômeno é raramente percebido como uma violação de direitos humanos, o que contribui para sua invisibilidade social e ausência nas políticas públicas.

Panorama nacional e internacional

O Brasil ocupa a sexta posição mundial (atualizado em 2024) em número absoluto de uniões envolvendo meninas, segundo dados citados pelo estudo conduzido pela organização Plan Brasil, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Na América Latina e Caribe, está entre os cinco países com maior incidência. O fenômeno difere de outras regiões do mundo, como Ásia e África, onde casamentos infantis estão muitas vezes ligados a tradições e negócios familiares. No Brasil, frequentemente há um suposto “consentimento”, ainda que este deva ser relativizado diante das vulnerabilidades que cercam as decisões das meninas.

Metodologia do estudo

O estudo foi realizado nos estados da Bahia (Salvador, Camaçari, Mata de São João) e Maranhão (Codó), onde há incidência elevada de casamentos infantis. Foram utilizados dois níveis metodológicos: nacional (análise de dados secundários) e amostral (pesquisa de campo). Os dados primários foram obtidos por meio de 84 entrevistas semiestruturadas e 30 sessões de grupos focais, envolvendo diferentes atores sociais.

Motivações e causas

As principais motivações para as uniões precoces, segundo o estudo, são: gravidez de  meninas e adolescentes, não planejada, desejo de constituir família, vivência da sexualidade, fuga de lares conflituosos, desejo de maternidade e necessidade de proteção contra violências e julgamentos sociais. Tais razões revelam que o casamento é, muitas vezes, uma resposta a carências e riscos sociais, e não uma escolha livre e informada.

Consequências para as meninas

As meninas são desproporcionalmente afetadas por essas uniões. Entre as consequências estão o aumento do trabalho doméstico, exclusão do mercado de trabalho, abandono escolar, restrição de liberdade e mobilidade, e falta de profissionalização. A média de idade dos cônjuges masculinos é 5,8 anos superior, e parte das uniões ocorre com meninas entre 10 e 14 anos, configurando estupro de vulnerável.

Aspectos culturais e legais

O estudo destaca que normas tradicionais de gênero e sexualidade reforçam o casamento precoce. O homem é associado ao papel de provedor e a mulher ao de cuidadora, perpetuando desigualdades. Os direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes ainda carecem de reconhecimento social, especialmente por instituições religiosas e familiares. No plano legal, o Código Civil brasileiro possui brechas que permitem exceções à idade mínima para o casamento, contrariando normas internacionais como a Convenção dos Direitos da Criança e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A invisibilidade do fenômeno

Apesar da gravidade e extensão do problema, o casamento infantil é socialmente invisível no Brasil. Não está inserido nas políticas públicas nem recebe atenção suficiente em campanhas de conscientização. A ausência de políticas e serviços voltados a adolescentes contribui para que o casamento se torne, erroneamente, uma via de ascensão social ou de saída de situações de risco.

O papel da escola e da educação sexual

A escola é reconhecida como espaço potencial de proteção, mas o tema ainda é negligenciado nas salas de aula. Questões como gênero e sexualidade enfrentam resistência de setores conservadores, dificultando uma abordagem crítica e educativa que poderia prevenir essas uniões precoces.

Conclusão e recomendações

O estudo evidencia a complexidade do casamento infantil no Brasil, suas causas multifatoriais e impactos duradouros. Para enfrentá-lo, é necessário harmonizar o marco legal brasileiro com normas internacionais, promover campanhas de conscientização, fortalecer as políticas públicas e garantir o acesso de adolescentes à educação e oportunidades. A erradicação do casamento infantil passa pelo enfrentamento das desigualdades de gênero e pela garantia plena dos direitos da infância e adolescência.

Para conhecer o Estudo na íntegra baixe o PDF, clicando no botão abaixo:


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Ilustração com um coração em forma de aperto de mãos e dois envelopes, simbolizando empatia, proteção e diálogo dentro da iniciativa Down To Zero.

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