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As conquistas estão aumentando, mas as desigualdades ainda persistem. Casamento infantil, gravidez na adolescência, evasão escolar e violência sexual são os maiores obstáculos.

Embora haja motivos para comemorar, é preciso ter em mente que ainda há muito trabalho a ser feito.

Igualdade de gênero na infância e na adolescência significa que meninas e meninos podem desfrutar dos mesmos direitos, recursos, oportunidades e proteções. E a luta pelo empoderamento das meninas vem resultando em diversas conquistas no mundo todo. Embora haja motivos para comemorar, é preciso ter em mente que ainda há muito trabalho a ser feito. A luta das meninas por igualdade de gênero está presente na campanha Meninas Pela Igualdade, que a Plan International vem realizando no mundo todo. Este ano, essa bandeira será levantada também durante as iniciativas do #MeninasOcupam, que celebra o Dia Internacional da Menina, em 11 de outubro.

Os números ajudam a compreender melhor o cenário atual. Os dados abaixo ilustram como algumas comunidades estão trabalhando para cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS5) da Organização das Nações Unidas (ONU), que aponta metas para a igualdade de gênero até 2030. Os números também evidenciam o quanto essa luta se faz necessária diante das desigualdades persistentes.

  1. Dois terços dos países já atingiram paridade de gênero quanto ao acesso à educação primária, de acordo com o Unicef. Nos países que ainda não atingiram essa paridade, principalmente na África Subsaariana, no Oriente Médio e no sul da Ásia, as meninas ainda estão em desvantagem. Na Angola e no Chade, por exemplo, para cada 100 meninos matriculados na escola primária, há apenas 77 meninas matriculadas. O Brasil atingiu a paridade de gênero nas matrículas para a educação básica, embora na prática os desafios ainda sejam grandes. Entre os jovens classificados como “nem-nem”, que não estudam nem trabalham, o número de mulheres é praticamente o dobro dos homens. “Os papéis tradicionais de gênero ainda colocam as meninas para desempenhar com exclusividade os trabalhos domésticos, o que acaba levando a uma frequência irregular ou à evasão da escola. Entre os ‘nem-nem’, temos uma porcentagem grande de mães adolescentes ou jovens casadas”, diz Viviana Santiago, gerente de gênero e incidência política da Plan.
  2. O Brasil é o quarto colocado no ranking mundial absoluto e o terceiro país da América Latina com maior índice de casamentos de meninas com menos de 18 anos: 36% das uniões são desse tipo. Em números absolutos, o Brasil fica atrás da Índia, Bangladesh e Nigéria. Em março deste ano, o país sancionou uma lei que proíbe o casamento de menores de 16 anos (antes, a prática era permitida mediante a autorização dos pais). O estudo Tirando o Véu, que a Plan divulgou em junho deste ano, aponta causas e consequências do casamento infantil. Entre as consequências negativas estão o abandono escolar, a gestação precoce, a falta de formação profissional e a redução nas perspectivas sociais e econômicas geradas pela sobrecarga com trabalho doméstico.
  3. A proporção de mulheres que se casam antes dos 18 anos caiu 15% na última década, segundo o Unicef. Apesar disso, muitas meninas continuam vulneráveis à prática do casamento infantil, principalmente as que vivem em comunidades mais pobres e em zonas rurais. Cerca de 650 milhões de mulheres se casaram antes dos 18 anos.
  4. Segundo a Organização Mundial da Saúde, todo ano, 16 milhões de meninas de 15 a 19 anos dão à luz em regiões em desenvolvimento. Complicações relacionadas à gravidez e ao parto estão entre as principais causas de morte para meninas de 15 a 19 anos no mundo e, em 90% dos casos, a gravidez está relacionada a casamentos precoces.
  5. Cerca de 500 milhões de meninas e mulheres não têm acesso a banheiros para praticar uma higiene adequada durante seu período menstrual. Em muitas regiões, a falta de acesso a absorventes faz com que meninas deixem de ir à escola quando estão menstruadas. Isso leva a uma queda no desempenho escolar e faz com que elas fiquem em desvantagem em relação a seus colegas meninos. Daí a importância de programas que lutem para mudar essa realidade. Em parceria com a Sempre Livre, a Plan promove educação sobre saúde menstrual no Maranhão e no Piauí.
  6. 15 milhões de meninas de 15 a 19 anos já foram violentadas sexualmente alguma vez na vida. Quando se trata da violência sofrida por adolescentes, meninos e meninas enfrentam realidades bem diferentes. Enquanto as meninas são mais vulneráveis à violência sexual, a taxa de homicídio entre meninos de 10 a 19 anos é quatro vezes mais alta do que a de meninas da mesma idade.
  7. Meninas de 10 a 14 anos gastam 50% mais tempo se dedicando a trabalhos domésticos em comparação a meninos da mesma faixa etária. A maior responsabilidade pelas tarefas de casa pode roubar o tempo de brincar das meninas. A Plan International Brasil já pesquisou sobre o assunto, entrevistando 1771 meninas de 6 a 14 anos. Dessas, 31,7% afirmaram não ter tempo suficiente para brincar durante a semana. O fardo das tarefas domésticas recai mais sobre as meninas mesmo em famílias cujos pais têm maior nível educacional.
  8. 11% das crianças de 5 a 17 anos são submetidas ao trabalho infantil na América Latina. Em quase todo o mundo, meninos e meninas têm iguais chances de terem de trabalhar. Mas na América Latina, os meninos são mais vulneráveis: 13% deles passam por essa situação, em comparação a 8% das meninas. No Brasil, 2,4 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalham. Nesta matéria você confere 10 motivos pelos quais as crianças não devem trabalhar.
  9. 125 milhões de meninas e mulheres já foram submetidas à mutilação genital feminina. A prática, que se concentra em 29 países da África e do Oriente Médio, vem se tornando menos comum em pouco mais da metade desses países, segundo dados do Unicef. Mas, na Somália por exemplo, a prevalência da mutilação genital ainda chega a 98% entre meninas e mulheres de 15 a 49 anos.
  10. Mais de 40% das meninas de Hanói, no Vietnã, afirmam que raramente ou nunca se sentem seguras quando usam o transporte público na cidade. A pesquisa, feita pela Plan International, motivou um projeto para conscientizar a população local sobre a importância da segurança no transporte público para garantir às meninas o direito de se locomover de forma independente. No Brasil, uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão e do Instituto Locomotiva apontaram que 97% das mulheres dizem já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte. A pesquisa não tem um recorte específico para meninas, mas não é difícil imaginar que a situação pode ser semelhante.
  11. Há duas vezes mais personagens masculinos do que femininos entre os filmes de maior bilheteria de 2018. Os dados são de uma análise da Plan International, que avaliou os 56 filmes de maior bilheteria em 20 países lançados no ano passado. A pesquisa também concluiu que as personagens mulheres têm mais chance de serem retratadas como objetos sexuais e menos chance de aparecerem como líderes em comparação aos personagens masculinos. As mulheres também recebem menos por papéis de protagonistas do que os homens.